Por Filipe Quintans*, especial para A Escotilha
O longa-metragem Operações Especiais é cria de um processo pós-Tropa de Elite, em que a polícia virou a tábua de salvação da discussão sócio-política no cinema brasileiro. Não tem thriller político? Que assistam filmes sobre tiras.
Enquanto Tropa (o primeiro) caminha no entorno da visita do Papa João Paulo II ao Rio de Janeiro, o filme de Tomás Portella e Equipe (assim dizem os créditos) margeia o alambrado do processo de ocupação de duas grandes comunidades cariocas; a polícia em Tropa é um ambiente sujo onde um tira bom às vezes também precisa jogar sujo para cumprir a lei; a polícia de Operações é honesta e feita de tiras bons, que se veem impossibilitados de cumprir a lei pelos arranjos nos bastidores políticos.
A ocupação da Rocinha, em novembro de 2010, e a ocupação do Complexo do Alemão, em novembro de 2011, iniciaram verdadeiro êxodo da bandidagem rumo às cidades do interior fluminense, fazendo crescer a criminalidade em regiões onde ela sequer existia. É nesse corte que entra a personagem de Cleo Pires em Operações Especiais, Francis.
É a primeira vez de Cleo num papel adequado ao seu nível de atuação. Anódina em Meu Nome Não é Johnny e tão sonolenta em Benjamin que fazia a atuação de Sofia Coppola em O Poderoso Chefão 3 merecer um Oscar, encontrou em Francis um veículo perfeito para a sensualidade misturada à cara de mal de policial novata que precisa enfrentar o preconceito e a dureza do serviço. Não é exagero dizer que é seu melhor trabalho em cinema.
É a primeira vez de Cleo num papel adequado ao seu nível de atuação.
Admitida na polícia mirando a estabilidade (leia-se salário) do serviço público, Francis, aluna exemplar na academia, é convocada a integrar uma força tarefa cuja missão é reprimir a crescente violência numa cidade (fictícia) do interior fluminense. Liderados pelo delegado talvez excessivamente sarcástico de Marcos Caruso, o tira bom (Fabrício Boliveira), o tira escroto (Thiago Martins) e Francis se metem nos domínios de um caricato ex-policial e miliciano ligado à forças políticas locais, interpretado por Antonio Tabet.
É quando o grupo, no cumprimento da lei e no restabelecimento da ordem na cidade, começa a perturbar tais forças políticas que as intenções de Operações Especiais ficam mais evidentes e a aparentemente simples pergunta do cartaz — E você… quer uma polícia honesta? — vira uma charada: a polícia deve ser honesta, mas nos limites impostos pelos gabinetes e nas reuniões sociais. Uma polícia honesta, afinal, não dá bom filme.
* Filipe Quintans É jornalista e crítico de cinema.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.