São inúmeras as adaptações à obra de J. M. Barrie nos mais de 100 anos de existência da história. Entre longas fiéis ao trabalho do autor e outros que procuraram imaginar momentos posteriores ao retratado na peça teatral e no livro, Peter Pan, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas brasileiros, é o prelúdio de tudo que viria a ser a história do “menino que não queria crescer”.
Dirigido por Joe Wright, diretor inglês com carreira muito ligada aos dramas de época, como Desejo e Reparação e Orgulho e Preconceito, sua escolha foi uma grata (e curiosa) surpresa. Peter Pan é um filme mais maduro quando comparado com qualquer outro que trate a história do órfão inglês. Justamente por isso, o roteiro de Jason Fuchs exige um pouco mais do espectador, sem, no entanto, criar um distanciamento do público mais jovem.
É perceptível que a dupla Wright / Fuchs compreendeu bem como tratar um filme fantasioso com pretensões profundamente comerciais. Alguns apostam, ainda, que Jason Fuchs seria uma escolha mais pensada neste contexto do que a do diretor. O roteirista foi responsável por A Era do Gelo 4, logo, tinha experiência no trabalho com grandes franquias hollywoodianas.
Wright constrói um filme que flutua por vários níveis.
A proposta do longa é contar a história de Peter (o jovem ator Levi Miller), um garoto de 12 anos de idade que vive em um orfanato em Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Revoltado com a situação a qual ele e os outros garotos são submetidos pelas freiras – comida de péssima qualidade, roupas velhas e sem contato com suas próprias histórias -, Peter e Nibbs (seu melhor amigo) arrumam constantes confusões dentro do orfanato.
Eles são separados quando um navio pirata voador sequestra várias crianças e as leva para a Terra do Nunca. Lá chegando, Peter descobre que foi tornado escravo juntamente com outras crianças e adultos pelo temido capitão Barba Negra (Hugh Jackman em bela atuação), um pirata que está em busca de pixum, uma pedra preciosa que contém pó de fada utilizada para que ele se mantenha sempre jovem. É durante seu período nas minas que Peter conhece James Gancho (Garret Hedlund, de Invencível), um adulto também escravizado pelo Barba Negra e que deseja fugir para longe dos domínios do pirata.
Gancho e Peter acabam desenvolvendo uma amizade que os leva a arquitetar esta fuga em conjunto. O garoto tem pretensões de procurar sua mãe, a quem acredita que esteja viva e morando na Terra do Nunca. Acontece que Barba Negra não pretende permitir que isto aconteça, pois, segundo uma lenda, um garoto com habilidades para voar nasceria para derrotar o pirata e, assim, salvar o reino das fadas e demais tribos do poder maligno do capitão.
A partir disto, Wright constrói um filme que flutua por vários níveis. Primeiro, o diretor abusa do uso de cultura pop, como, por exemplo, os piratas inspirados no steampunk e cyberpunk, que trabalham sob um empolgante uníssono de “Smells Like Teen Spirit”, do Nirvana, ou que fazem crianças andarem na prancha entoando versos de “Blitzkrieg Bop”, dos Ramones. Em outro instante, o diretor se apropria do Cirque du Soleil e suas técnicas circenses e artísticas, construindo um cenário repleto de fantasia e imaginação, um verdadeiro balé na poltrona do cinema. Vale ressaltar a excelente fotografia e o bom uso do 3D, com sequências notadamente pensadas de forma a explorar ao máximo o que a tecnologia oferece.
Peter Pan não é um filme brilhante, apresentando problemas no roteiro especialmente no último terço do longa. Ainda assim, é divertido e envolve o espectador ao forçá-lo mergulhar em sua imaginação. Ainda por cima, traz um elenco com boas atuações, o que demonstra o tamanho do talento de Joe Wright em criar grandes experiências no cinema.
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