O filme Precisamos Falar Sobre A.I. (2020) é um documentário que, definitivamente, faz jus ao título que tem. Dos segundos iniciais aos finais, o que se observa é uma preocupação em debater, refletir, analisar, discutir qual é, afinal, o futuro da humanidade quando o assunto é inteligência artificial, aqui entendida como a capacidade de as máquinas fazerem qualquer coisa melhor que os seres humanos. Para isso, o filme da diretora canadense Leanne Pooley entrevista uma série de especialistas no assunto, não sem antes fazer referência ao próprio cinema e seu potencial de retratar o tema.
Precisamos Falar Sobre A.I. começa com metalinguagem. É um produto cinematográfico falando de cinema. Mais especificamente de como Hollywood constrói no imaginário das multidões aquilo que elas entendem como sendo inteligência artificial. Geralmente, são robôs com aparência humana, prestes a destruir a humanidade. Essa relação com o cinema perpassa todo o documentário, com menções a vários filmes, principalmente 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick; O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991), de James Cameron; Metrópolis (1927), de Fritz Lang; e Ex-Machina: Instinto Artificial (2015), de Alex Garland. James Cameron, aliás, é um dos entrevistados.
A preocupação do roteiro parece ser a de manter um equilíbrio, uma imparcialidade entre as visões antagônicas daqueles que veem na inteligência artificial uma possibilidade de progresso sem precedentes daqueles outros que enxergam nela um risco contra a espécie humana também sem precedentes. Algumas falas ficam no meio termo. A dificuldade em encontrar respostas prontas para as questões levantadas pelo debate mostra o quanto o tema é complexo. Um dos entrevistados chega a sugerir que as soluções precisam ser pensadas coletivamente pela “comunidade global”. É uma forte referência ao título do filme.
Enquanto uma entrevistada preocupa-se, por exemplo, com o fato de que qualquer pessoa com acesso a uma impressora 3D pode ter uma arma autônoma letal em mãos, um entusiasta da inteligência artificial fala que novas tecnologias precisam de regulação por parte dos governos e que isso seria um argumento para frear o medo, impulsionar as descobertas e estimular o progresso.
Ao deixar claro já no título que é preciso falar sobre o assunto, o documentário produzido na Nova Zelândia tem a intenção de sensibilizar o espectador sobre o quanto a inteligência artificial saltou das páginas e telas da ficção científica para o cotidiano das pessoas, bem como todas as implicações práticas, éticas e filosóficas disso tudo.
Enquanto uma entrevistada preocupa-se, por exemplo, com o fato de que qualquer pessoa com acesso a uma impressora 3D pode ter uma arma autônoma letal em mãos, um entusiasta da inteligência artificial fala que novas tecnologias precisam de regulação por parte dos governos e que isso seria um argumento para frear o medo, impulsionar as descobertas e estimular o progresso. A certa altura, o espectador ouve que a inteligência artificial não é boa nem má: simplesmente, dá poder. E o que será feito com isso é a grande questão a ser analisada.
Em sua intenção de debater ao máximo o assunto, o documentário traz tantas informações a serem processadas por quem assiste que passa a impressão de ser mais longo do que realmente é. O ritmo da narrativa em seus 82 minutos é bastante ágil e a quantidade de conteúdo trabalhado é tão grande que chega a quase cansar. Mas o mérito desta produção de Leanne Pooley está justamente na entrega de uma série de questionamentos que (sim, de novo!) pedem para o mundo: precisamos debater o futuro da humanidade em relação à inteligência artificial.