Sob a direção de Sofia Coppola, Priscilla confirma a essencial fascinação da cineasta e roteirista norte-americana por temas como fama, notoriedade e os intrincados caminhos que conduzem do fascínio inicial ao isolamento proveniente do sucesso. O longa-metragem dialoga com obras anteriores na sua filmografia, como Encontros e Desencontros, Em Algum Lugar e Maria Antonieta.
Com base nas memórias de Priscilla Presley, descritas na autobiografia Elvis e Eu, o filme desvela um fragmento da mitologia que gira em torno de Elvis (Jacob Elordi, da série Euphoria), reimaginando-o sob a ótica de sua esposa (interpretada pela revelação Cailee Spaeny, premiada no Festival de Veneza), a qual ele conheceu e cortejou quando ela tinha apenas 14 anos, enquanto servia o Exército norte-americano na Alemanha.
Classificar Priscilla como mera “mitologia de Elvis” seria menosprezar o minucioso trabalho de Coppola em criar um universo cinematográfico intimista, quase claustrofóbico, centrado nos anseios e na solidão da protagonista. Por meio dos elementos pessoais e profissionais desses personagens, Coppola tece uma trama impregnada por eventos significativos, influenciados pelo crescente peso da fama e da dependência química.
A diferença de estatura entre Elordi e Spaeny é habilmente explorada, com Elvis dominando a diminuta Priscilla.
A dinâmica de poder se mostra desequilibrada desde o início, com o já imensamente famoso Elvis demonstrando interesse por uma garota de apenas 14 anos, causando perplexidade nos pais dela: “Por que, dentre todas as garotas do mundo, ele se interessa por ela?”.
Elvis exerce um controle absoluto sobre Priscilla, desde incentivá-la a deixar a Alemanha por um longo período antes do casamento, até determinar suas roupas, círculos sociais, influenciar na cor de seus cabelos e presenteá-la com armas de fogo.
‘Priscilla’: machismo
A diferença de estatura entre Elordi e Spaeny é habilmente explorada, com Elvis dominando a diminuta Priscilla. Spaeny entrega uma atuação segura e emocionante, oscilando entre momentos de confusão e solidão e a intensidade de um novo amor e de experiências antes inimagináveis.
A ausência se faz tema recorrente na tela: a ausência dos pais de Priscilla, a falta de Elvis em sua vida, e a presença nebulosa do Coronel Tom Parker, mencionado mas jamais em cena. Coppola aproveita o foco mais restrito de sua narrativa. Até mesmo a fama de Elvis é apenas insinuada, evitando apresentações musicais, focalizando-se nos detalhes mundanos e prosaicos do dia a dia, marcados por momentos de alegria, mas também por explosões violentas, assustadoras.
Nesse cenário, Coppola demonstra um mínimo interesse em retratar Elvis como um monstro e Priscilla como uma heroína, permitindo que o espectador tire suas próprias conclusões. Ambos são retratados como figuras compassivas, buscando reaver algum grau de independência em um mundo que os encarcerou em gaiolas douradas.
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