O documentário vencedor do Oscar 2021 tem uma história que, acima de todos os adjetivos, pode ser considerada inusitada. Mas a essa característica também podem ser somadas outras como especial, bela, poética, chamativa e instrutiva. Professor Polvo (2020) conta (olhem só!) o desenrolar da amizade entre um mergulhador e… um polvo. É uma produção extremamente simples em termos de narrativa, mas complexa no que se refere à captação de imagens.
A direção de fotografia de Roger Horrocks trata de entregar belos registros subaquáticos. O colorido e a riqueza de detalhes do ambiente natural que serve de cenário para a maior parte do filme são capazes de encantar na mesma medida em que atuam como coadjuvantes para a dupla de protagonistas ganharem ainda mais destaque.
Ao polvo do título soma-se como personagem principal Craig Foster, documentarista em crise com sua saúde e com sua profissão. De tanto voltar para mergulhar no mesmo lugar, uma floresta de algas na África do Sul, Craig ganha a confiança de um dos habitantes do local: um molusco de oito tentáculos, famoso no meio científico por ter inteligência única em invertebrados e acima do nível de alguns vertebrados.
Se no meio das ciências biológicas o polvo é conhecido por sua inteligência, a maioria da população desconhece as peculiaridades deste animal. Aí está um dos méritos do documentário: ao mesmo tempo em que o transcorrer da narrativa atrai por mostrar o processo de aproximação entre seres de espécies tão diferentes, uma série de informações a respeito deste molusco é lançada para o espectador.
Isso fica claro logo no início, quando a protagonista é apresentada para quem assiste. Sim, a protagonista, porque, na verdade, o animal que figura como estrela do documentário é um polvo fêmea. A personagem começa a ser mostrada aos espectadores por sua incrível capacidade de mimetismo. Ela usa dois tentáculos como se andasse com duas pernas, imita uma pedra, capricha no disfarce ao confundir-se com algas movendo-se no mar. Tudo é estratégia, resultado de biologia evolutiva para ajudá-la no desafio de sobreviver rodeada por uma espécie de tubarão, seu maior predador.
A relação mútua que se cria entre humano e molusco explica o porquê do filme ter o nome que tem.
E assim o documentário prossegue, entrelaçando belas imagens com informações sobre esse animal não muito conhecido da população em geral. Tanta informação é baseada em consultoria e pesquisa. Até uma brasileira, a professora e pesquisadora Tatiana Leite, chega a ter um de seus artigos científicos exibidos na tela.
Com direção de Pippa Ehrlich e James Reed, o documentário é uma produção original da Netflix. A relação mútua que se cria entre humano e molusco explica o porquê do filme ter o nome que tem. Como resultado, deixa uma mensagem bastante comovente e com tendência a reverberar por um bom tempo na mente (e na alma) de quem assiste: o quanto o homem ganha quando estabelece (ou recupera) a conexão com a natureza, com as mais diversas espécies. Inclusive, com a própria.
Nem de longe essa é uma mensagem original. No entanto, não custa ser lembrada (e o documentário insiste nisso). Com esse conjunto de atributos, Professor Polvo mostra-se uma produção que tenta, na mesma medida, encantar por seus fotogramas, apelar para a sensibilidade e despertar o racional, com seu alerta sobre o quanto é necessário sintonia com e respeito aos ecossistemas.
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