Para se discutir Um Senhor Estagiário, comédia dramática em cartaz nos cinemas brasileiros, é inevitável falar sobre sua diretora e roteirista, a norte-americana Nancy Meyers. Aos 65 anos, a cineasta vem construindo uma filmografia que, se não é exatamente notável, tem inegável coerência: seus longas-metragens discutem, de forma mais ou menos evidente, dependendo do título, temas como choque entre gerações, família, a possibilidade do amor e do sexo na terceira idade e a incomunicabilidade.
O filme de virada na carreira de Meyers foi Alguém Tem Que Ceder (2003), comédia romântica estrelada por Diane Keaton e Jack Nicholson que alcançou enorme sucesso de bilheteria e fez Hollywood prestar mais atenção no público com mais de 60 anos, até então bastante negligenciado pela indústria do entretenimento, obcecada pelos adolescentes e jovens adultos.
Desde então, a diretora vem focando em histórias que, de alguma maneira, tenham apelo para essa faixa de espectadores, digamos, mais experientes. E Um Senhor Estagiário não foge a essa regra. Pelo contrário: pretende ser uma espécie de manifesto em defesa dos “idosos”, representados pelo protagonista, Ben (Robert De Niro), um executivo aposentado que fica viúvo e tenta levar uma vida interessante, senão produtiva.
O filme de virada na carreira de Meyers foi Alguém Tem Que Ceder (2003), comédia romântica estrelada por Diane Keaton e Jack Nicholson que alcançou enorme sucesso de bilheteria e fez Hollywood prestar mais atenção no público com mais de 60 anos.
Depois de viajar pelo mundo, passar temporadas com o filho e sua família, além de tentar aproveitar ao máximo as vantagens de não ter mais que cumprir horários, fazendo caminhadas, lendo e indo ao cinema, Ben percebe que a falta de uma atividade regular lhe faz mal. Resolve, então, candidatar-se a uma vaga de estagiário em uma bem-sucedida empresa de e-commerce, especializada na venda roupas pela internet, que começa a abrir seus quadros para profissionais mais vividos.
Entra, então, em cena o contraponto de Ben: Jules (Anne Hathaway), a jovem e workaholic criadora do negócio, que diante do inesperado sucesso e crescimento de seu empreendimento enfrenta um dilema doméstico. Seu marido, Matt (Anders Holm), abandonou uma promissora carreira para se tornar “dono de casa” e cuidar da filha do casal, mas a rotina frenética de Jules começa a causar efeitos colaterais e os dois andam cada vez mais distantes. Há aí uma interessante inversão de papéis, ainda pouco comum na maior parte das sociedades.
Em princípio, Jules é extremamente resistente à figura de Ben, que lhe é imposta como uma espécie de faz-tudo. Como tem um relacionamento difícil com os pais, a jovem executiva não consegue se imaginar tirando proveito do convívio com alguém mais velho. Ele, para ela, é um estorvo, um fardo sob a forma de boa ação. Aos poucos, no entanto, descobre que pode estar enganada.
Embora haja uma boa química entre De Niro (que repete em alguns momentos sua persona cômica careteira) e Hathaway, atores que além de experientes são carismáticos, a direção esquemática de Meyers se esforça demais em tentar equilibrar, como em uma fórmula matemática, drama e humor. Acaba por comprometer o resultado final, agradável, leve, porém um tanto previsível. Ela não ousa, replicando fórmulas utilizadas à exaustão pelo cinema norte-americano, tanto do ponto de vista formal quanto narrativo.
O roteiro de Um Senhor Estagiário é repleto de boas intenções, não há como negar. Pretende, de uma só vez, discutir tanto o preconceito de idade quanto os conflitos enfrentados por mulheres que tentam conciliar o protagonismo no trabalho e a vida familiar.
Pena que o filme fique apenas na superfície na maior parte do tempo, talvez com receio de tornar o filme mais pesado do que pretende ser. Os conflitos, embora interessantes, encontram soluções fáceis e pacificadoras demais para que a trama ganhe consistência e relevância. O público que busca diversão sem muito compromisso, contudo, vai curtir mais este “combinado” palatável de vida real que Meyers acrescenta a seu cardápio.
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