O longa-metragem Suk Suk: um Amor em Segredo, que acaba de estrear nos cinemas brasileiros, é uma obra muito importante, que discute com delicadeza e realismo um tema fundamental, mas também tabu: a sexualidade na velhice. Escrito e dirigido pelo chinês Ray Yeung, o longa-metragem, selecionado para a mostra competitiva do Festival de Berlim, tem como protagonistas dois homens maduros, da classe trabalhadora, já na casa dos 60 anos, que, na Hong Kong dos dias atuais, se apaixonam e não sabem como lidar com esse sentimento inesperado, que os atropela. Tanto um quanto o outro levam vidas duplas, por serem percebidos por suas respectivas famílias como heterossexuais, e, até se conhecerem, veem no sexo uma válvula de escape, e não a possibilidade concreta de felicidade.
Park (Tai-Bo) é motorista de táxi, casado e pai de um casal de filhos. Sua relação com a esposa é respeitosa, porém distante. Ele vive suas escapadas sexuais à tarde, durante o horário de trabalho, e busca parceiros, quase sempre anônimos, em locais públicos. Em um desses lugares, ele conhece Hoi (Ben Yuen), há muitos anos divorciado da mulher, que o deixou com o único filho, criado por ele e agora também adulto e já casado.
O roteiro de Yeung, assim como suas direção, tem o cuidado de apresentar os dois protagonistas e suas respectivas realidades de forma detalhada, para que os dilemas que enfrentam sejam compreendidos. Como Hong Kong está na dobra entre os mundos ocidental e oriental, eles vivenciam na pele tanto tradições quanto contradições na cultura em que estão inseridos, na qual o casamento gay ainda não é legalizado e não há proteção contra a homofobia.
O roteiro de Yeung, assim como suas direção, tem o cuidado de apresentar os dois protagonistas e suas respectivas realidades de forma detalhada, para que os dilemas que enfrentam sejam compreendidos.
Park, por exemplo, tem de enfrentar a resistência de sua mulher em aceitar que a filha, já com 40 anos, está prestes a se casar com um rapaz bem mais jovem que ela, algo não muito aceito entre os chineses mais tradicionais, mesmo em Hong Kong. Hoi, por sua vez, por influência do filho, tornou-se cristão, fé que tenta, sem muito sucesso, apresentar ao amante. Por não ter uma companheira há muitos anos, ele já está um pouco mais inserido na comunidade de homens gays maduros como ele e vem participando de uma campanha para a criação, pelo governo, de um lar voltado para idosos homossexuais, algo que inexiste em Hong Kong, onde a homofobia ainda é muito intensa.
Se Yeung abusa um pouco demais da trilha sonora melodramática, e exageradamente romântica, uma característica forte no cinema mais popular de seu pais, a câmera do diretor é muito reveladora. Ela se ocupa de minúcias valiosas nos cotidianos dos dois homens, mostrando quem eles são por meio de detalhes na direção de arte (como uma toalha que “decora” a tela da televisão na sala da casa de Park) ou o ambiente algo decadente, insalubre porém também protetor, da sauna em que os protagonistas mantêm seus encontros amorosos e socializam com outros gays maduros.
Se pouco se veem histórias de amor entre idosos no cinema, elas são ainda mais raras quando os personagens centrais são homossexuais, um universo no qual a juventude e a beleza física são ainda muito cultuadas, cobradas. Por isso, Suk Suk: um Amor em Segredo é um filme importante, político, que merece ser assistido e debatido por todos independentemente da orientação sexual.