Chega agora em janeiro ao canal de streaming Mubi o fascinante, e muito perturbador, Titane (Titânio, em português), vencedor da Palma de Ouro no Festival de Internacional de Cinema de Cannes em 2021. Sua diretora, a francesa Julia Ducournau, tornou-se apenas a segunda mulher a conquistar esse prêmio na história do evento. A primeira foi a neozelandesa Jane Campion, por O Piano, em 1993, neste ano favorita ao Oscar pelo extraordinário Ataque dos Cães.
Com Titane, a cineasta dá mais um passo ousado no sentido de se tornar uma referência nos gêneros pelos quais transita, o fantástico e o horror. O filme tem como personagem central Alexia, uma garota que, na infância, sofre um grave acidente de carro, em companhia do pai, um homem abusivo em vários aspectos, e, devido aos ferimentos, recebe no corpo placas do metal titânio.
Adulta, agora vivida por Agathe Rousselle, em excelente desempenho, Alexia se transforma em uma requisitada dançarina, cuja especialidade é fazer performances sensuais em eventos automobilísticos, o que é de uma ironia imensa – com o enxerto recebido na infância ela se torna um ser híbrido, meio mulher, meio carro.
Com sérios transtornos emocionais, Alexia torna-se, também, uma mulher extremamente violenta, incapaz de controlar seus impulsos, por vezes assassinos. E mais: ela se descobre grávida depois de fazer sexo com um carro, em um flerte do roteiro com o surrealismo.
Julia Ducournau já havia tido seu talento reconhecido em Cannes por seu longa-metragem de estreia, Grave, que, em 2016, venceu o Grande Prêmio na mostra paralela Quinzena dos Realizadores.
Após cometer uma série de crimes, para não ser presa, ela se faz passar por Adrien, filho desaparecido de um bombeiro, Vincent (o grande Vincent Lindon, também visceral no papel). Ele acredita tê-lo finalmente encontrado depois de muito tempo na figura andrógina de Alexia/Adrien, com quem desenvolve uma relação no fio da navalha da ambiguidade.
Julia Ducournau já havia tido seu talento reconhecido em Cannes por seu longa-metragem de estreia, Grave, que, em 2016, venceu o Grande Prêmio na mostra paralela Quinzena dos Realizadores. A produção a colocou, de forma instantânea, no mapa do cinema fantástico e de horror, abordando um tema bastante indigesto: o canibalismo entre jovens, como forma de iniciação à sexualidade em uma universidade.
Visualmente muito expressivo, e, como Grave, com elementos fantásticos, e em alguns momentos excessivos e escatológicos, Titane é um dos filmes mais originais e impactantes do último ano. É uma potente metáfora cinematográfica sobre masculinidade tóxica e seu impacto destrutivo sobre o psiquismo feminino, quando faz uso de todo tipo de violência, física e simbólica, para calá-lo.
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