O filme Yves Saint Laurent, longa-metragem de em cartaz desde ontem em Curitiba, padece de um dos problemas mais recorrentes em cinebiografias. Por mais que sua ação se concentre mais nas décadas de 1960 e 1970, período crucial na gênese do mito construído em torno do genial estilista francês, que morreu em 2008, aos 71 anos, o filme não dá completamente conta da complexidade do personagem. Funciona bem mais como um voo panorâmico por sua carreira do que como mergulho em sua atormentada vida pessoal.
O talentoso Pierre Niney, ator da renomada companhia teatral Comédie Française, está muito convincente no papel de Saint Laurent, um jovem prodígio nascido em Orã, na Argélia, que vai à França em busca do sonho de trabalhar com moda, e acaba sendo contratado pelo mestre Christian Dior, cujo ateliê lhe serve como trampolim para seu voo solo.
Em entrevista, Lespert contou que o que mais o interessou na história de Saint Laurent foi justamente essa trajetória ao mesmo tempo gloriosa e trágica – ele sofria de transtorno maníaco-depressivo e só era, de fato, feliz quando criava suas coleções. À medida em que tornou uma referência mundial, inovando e estabelecendo tendências, ele foi engolido por um labirinto emocional, imerso em álcool, drogas e sexo.
O problema é que o longa de Lespert até tenta, mas não consegue problematizar essa ambiguidade de sua vida, e a retrata de forma superficial.
O problema é que o longa de Lespert até tenta, mas não consegue problematizar essa ambiguidade de sua vida, e a retrata de forma superficial. O filme consegue mostrar como ele se tornou dependente, em todos os aspectos, de seu companheiro e sócio Pierre Béger (o excelente Guillaume Gallienne, do premiado Eu, Mamãe e os Meninos), mas essa relação nunca é discutida pelo filme.
Baseado na biografia Debut: Yves Saint Laurent 1962, de Laurence Benaïm, o filme enche os olhos com a cuidadosa reconstituição de época: desde a criação do roteiro, Lespert contou com o consentimento e com a colaboração de Bergé, que, por meio da Fundação Yves Saint Laurent-Pierre Bergé, detentora dos direitos sobre a obra do estilista, cedeu todos os modelos originais vistos no filme.
São espetaculares as cenas que recriam com fidelidade grandes momentos da carreira do estilista, como o lançamento do smoking feminino, em 1966, e da sua coleção russa, em 1976. No todo, entretanto, o filme resulta em um prato com ótimos ingredientes, bela apresentação, mas sem muito paladar. Talvez, o próximo projeto sobre o estilista, Saint Laurent, de Bertrand Bonello, diretor de L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância, que estará no Festival de Cannes neste ano, vá mais fundo ao falar do personagem, sem dúvida fascinante.
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