Há que se dizer, a despeito de todos os defeitos que um filme possa ter, que busca por novos caminhos narrativos, de experimentações de linguagem, devem ser exaltadas. Tendo isso em vista, Zoom, coprodução brasileiro-canadense, dirigida por Pedro Morelli (do interessante Entre Nós), larga com alguma vantagem, apesar de suas derrapagens, e elas não são poucas.
No centro de sua enovelada trama está Emma (a ótima Allison Pill, do seriado Newsroom e Meia-noite em Paris), designer e artista que ganha a vida projetando sex dolls e outros brinquedos eróticos. Garota tímida e sensível, ela mantém um caso amoroso um tanto burocrático e morno com um colega de trabalho, que entre uma transa e outra, confessa que ela não se parece nem um pouco com as bonecas que desenha.
O comentário, nada elegante, desencadeia em Emma uma crise de baixa autoestima que a leva a procurar um cirurgião plástico, em busca de próteses mamárias mais voluptuosas. Também faz com que ela, em um ato de pequena vingança, resolva criar, na ponta de seus lápis de colorir, um personagem fictício, o cineasta Edward (o mexicano Gael García Bernal, de Diários de Motocicleta), belo, jovem e viril. Enfim, o homem de seus sonhos.
Como essas três dimensões estão totalmente entrelaçadas, o que acontece em uma tem consequências sobre a outra, o que torna o conceito que norteia o roteiro de Matt Hansen bastante instigante.
O personagem, em outra dimensão, retratada como uma obra de animação, está a dirigir um filme sobre os dilemas existenciais de Michelle (Mariana Ximenes, de Os Penetras), uma modelo brasileira que sonha em tornar-se escritora, mas não conta com o apoio do namorado, Dale (Jason Priestley, do seriado Barrados no Baile), que duvida de seus talentos literários.
No intuito de provar ser capaz de escrever um livro, Michelle foge para o Brasil, onde dá continuidade à história iniciada no Canadá: justamente a narrativa que dá início a Zoom, centrada na personagem de Emma.
Como essas três dimensões estão totalmente entrelaçadas, o que acontece em uma tem consequências sobre a outra, o que torna o conceito que norteia o roteiro de Matt Hansen bastante instigante. O resultado não é tão interessante quanto sua premissa sinaliza. Está povoado por clichês que justamente tenta criticar, muitos sexistas, e situações pseudocômicas, ou não tão criativas quanto pretendem, que tornam o longa de Morelli um pouco frustrante no fim das contas, apesar de suas inegável criatividade, tanto no plano estético quanto narrativo.
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