Com duas indicações ao Oscar (melhor filme estrangeiro e melhor maquiagem), Um Homem Chamado Ove estreia no circuito nacional nesta quinta-feira. Representante sueco na principal premiação do cinema norte-americano, o longa-metragem é uma comédia dramática que chamou a atenção de maneira especial quando recebeu as indicações, posto que a crítica especializada não se rendeu ao filme de Hannes Holm.
Um Homem Chamado Ove acompanha justamente o homem que dá nome ao filme. Ove (Rolf Lassgård) é um senhor viúvo de 59 anos que há 43 trabalha na mesma empresa. Amargo, incomoda seus vizinhos e quem mais possa, fazendo disso uma espécie de missão na vida. Nada motiva que Ove esboce um sorriso, pelo contrário. Tudo parece um tremendo martírio para o personagem, que costuma frequentar o cemitério para visitar o túmulo da esposa, onde passa horas reclamando da vida e deixando claro o quanto sua ausência lhe faz falta. Um dia, após ser demitido do trabalho, ele retorna para casa, toma banho, coloca seu melhor terno, loção pós-barba, ajeita a foto da falecida esposa e posiciona uma cadeira no centro da sala. No teto, uma corda está amarrada, pronta para que ele, aparentemente, cometa suicídio.
O roteiro acaba por repetir pequenas fórmulas típicas dos melodramas (para não dizer o quanto emula outras obras), que apesar de causar emoção, não é o suficiente para fazer do filme mais do que uma obra efêmera.
Acontece que Ove é tão carrancudo que, durante sua tentativa de suicídio, ele vê uma vizinha trafegando com um carro em frente à sua casa, algo proibido no condomínio onde reside. Tomado pelo ímpeto de fazer o que lhe restava na vida, ser um reclamão, ele interrompe a tentativa de suicídio e sai para reclamar com o casal de vizinhos, Patrick (Tobias Almborg) e Parvaneh (Bahar Pars), que acabara de mudar para a casa ao lado. E na improvável amizade que surge aí é que Ove encontra forças para seguir em frente.
Baseado em livro homônimo, escrito pelo sueco Fredrik Bakman, Um Homem Chamado Ove teve roteiro adaptado pelo próprio diretor, Holm, que apresenta uma obra sensível, porém, extremamente previsível. O problema não é necessariamente da direção, tampouco a atuação de Lassgård ou Pars, dupla que se esforça bem ao decorrer do filme em estabelecer uma relação o mínimo crível. O roteiro acaba por repetir pequenas fórmulas típicas dos melodramas (para não dizer o quanto emula outras obras), que apesar de causar emoção, não é o suficiente para fazer do filme mais do que uma obra efêmera.
A frieza e rabugice de Ove, que funcionam inicialmente ao apresentar o personagem, passam a fazer com que a história, uma visão sobre a melancolia da solidão na reta final da vida, torne-se caricata, um viés muito reduzido e simplório da terceira idade. Entretanto, em um cenário de recrudescimento conservador em grande parte da Europa, o fato de Ove encontrar uma espécie de redenção através de uma personagem iraniana é um fator interessante, mesmo que o roteiro deixe isso previsível desde o início.
Ao cabo, com uma obra humana mas esquecível, fica a sensação de que Aquarius, caso houvesse sido colocado como postulante brasileiro, certamente mereceria esta vaga. Vida que segue – apesar de Ove.
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