A melhor maneira de conhecer a si mesmo é voltar os olhos para sua própria essência. Em se tratando de um festival de cinema, a coisa fica um pouco mais complicada. Entre diretores consagrados e cineastas de primeira viagem, como reconhecer o pedaço onde se está pisando? No 4º Olhar de Cinema – Festival Internacional de Curitiba, a melhor maneira de se resolver a questão é prestigiar a interessante Mirada Paranaense. A mostra, que neste ano recebeu maior destaque dentro da programação, é voltada aos realizadores paranaenses.
A Mirada Paranaense tem por objetivo, segundo os organizadores, unir diversidade temática e estética dentre os filmes selecionados. Tarefa inglória diante da anêmica produção cinematográfica nacional? Não no estado do Paraná. Até o presente momento, o público foi agraciado com boa exibições, sempre acompanhadas de debates com a presença dos diretores, como manda a tradição cineclubista que nos rege.
A mostra conta com 10 filmes (1 longa e 9 curtas), que tratam de diferentes temas e servem de guia para se compreender a cultura cinematográfica paranaense em todo o seu esplendor. É claro que nem todos os diretores são nascidos, batizados e devidamente marcados pela cidade ou pelo estado do Paraná. No entanto, todos carregam em si a paixão e a vontade de levar adiante uma produção local que está além da origem de seus criadores.
Diante da impossibilidade de comentar todos os filmes, que foram ou serão exibidos na Mirada Paranaense – até para não cometer nenhuma injustiça – é preciso voltar os olhos para a iniciativa de dar voz e espaço aos produtores, que acreditam no poder do cinema, mesmo enfrentando diariamente os percalços que envolvem a construção de uma obra cinematográfica.
Como no restante do país, nem tudo são flores no mercado audiovisual paranaense.
Como no restante do país, nem tudo são flores no mercado audiovisual paranaense. Em meio as conversas, é possível observar que existe, apesar de não ser consenso entre os diretores da Mirada, certo descontentamento com a Fundação Cultural de Curitiba e Secretaria da Cultura do Estado do Paraná que, aparentemente, não tem cumprindo seu papel por completo.
O cineasta Danilo Daher, diretor do curta Todo Tempo, ressalta que “O contexto cinematográfico paranaense, em relação ao contexto nacional, é muito ruim. Existe muita gente boa e disposta, só que não existe incentivo municipal e estadual. Isso sempre foi discutido por aqui, e agora o Festival comprou essa briga”. Segundo Daher, existe uma valorização em relação à quantidade de filmes que fazem parte da Mirada Paranaense, bem como em relação ao horário de exibição dos filmes, que nas primeiras edições do festival “não alcançavam o horário nobre, muito menos os fins de semana”. O cineasta finaliza dizendo que, desde a primeira edição, que acompanhou enquanto espectador, “é notável o cuidado e o carinho dos curadores em relação às produções paranaenses”.
Já Edu Camargo, que dirige, ao lado de Gabriel do Valle, o curta Palhaços Anônimos, agradece, em nome dos cineastas, a coragem dos organizadores do Festival que, segundo ele, “Possibilitaram um Festival desse porte aqui em Curitiba. Nós queríamos ver os filmes e não existia um Festival tão grande quanto esse”. Apesar das justas – e comuns – reclamações, o sucesso da Mirada Paranaense é notável. Exemplo disso é a opinião do estudante Daniel Barbosa. Ele comenta que a continuidade da mostra “é fundamental para a manutenção do interesse do curitibano em relação ao cinema local, que não consegue espaço nas grandes salas fora do calendário da mostra”. Para ele “é preciso pensar a exibição dos filmes em locais mais interessantes e menos limitados”.
Entre encontros e discordâncias, a Mirada Paranaense segue cumprindo o seu papel na cidade de Curitiba. Sueli Araújo, que estreia no Olhar de Cinema com o curta Dessas Coisas que Acontecem, celebra a alegria de participar e vivenciar um momento único em sua trajetória. Segundo a dramaturga, “É imprescindível dedicar espaço para a produção local”, já que são em ocasiões como essas, que os realizadores paranaenses irão se encontrar para discutir e compartilhar suas ideias e expectativas sobre o cinema nacional e local. Sueli acredita que “Não existe a possibilidade artística se não houver a possibilidade do encontro de criadores”. Edu Camargo segue a mesma linha de pensamento, e ressalta a importância da valorização de cineastas e filmes locais, que podem dialogar dentro de uma programação que visa o encontro. Apesar de Camargo debutar no Olhar de Cinema este ano, é espectador e entusiasta da iniciativa desde sua primeira edição.
Última exibição
Hoje, às 14h, na sala 2 do Espaço Itaú de Cinema, no Shopping Crystal, acontece a última exibição dos filmes que compõem a Mirada Paranaense. Os ingressos custam R$ 6,00 (inteira) e R$ 3,00 (meia entrada), e podem ser adquiridos na bilheteria do cinema.
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