A Moça que Dançou com o Diabo
Representante nacional na Mostra “Competitiva de Curtas” do 5º Olhar de Cinema, A Moça que Dançou com o Diabo também foi o representante brasileiro na competitiva de curtas em Cannes neste ano.
O filme acompanha a trajetória de uma mulher de uma cidade do interior, que vive em uma família extremamente religiosa e conservadora e busca formas para desenvolver seu próprio paraíso. Rodado no interior de São Paulo, na cidade de Rio Claro, o filme foi feito com baixo orçamento, cerca de R$ 500 arrecadados com a venda de rifas. João Paulo Miranda, o diretor, já havia passado por Cannes na Semana da Crítica em 2015 com outro curta, Command Action.
A Moça que Dançou com o Diabo parte de uma lenda religiosa com mais de 100 anos, sobre uma garota que saiu para dançar em uma Sexta-Feira Santa e acabou dançando com o diabo. Essa releitura contemporânea de Miranda é muito bem orquestrada, conversando diretamente com o cenário de conservadorismo religioso que vivenciamos atualmente. Uma pequena obra-prima de 14 minutos e, até agora, o melhor dos curtas da competitiva.
Babor Casanova
Babor Casanova acompanha a história de Adlan, um jovem de 19 anos que mora em Argel, capital da Argélia. Sua vida é passar os dias pelo bairro de Sacre Coeur, ganhando alguns trocados enquanto toma conta de carros na rua, esperando ansiosamente o fim de semana, quando vai ao estádio acompanhar o Mouloudia, seu time do coração. O curta procura estabelecer uma relação de salvação causada pela paixão pelo futebol nutrida por Adlan, que o faz esquecer do vazio cotidiano de sua vida. Uma obra provocativa, ainda que com um final um tanto abrupto.
Sob o Sol
Coprodução chinesa e australiana, Sob o Sol, curta dirigido por Qiu Yang, estabelece uma relação com ares de “efeito borboleta”. Uma tragédia acaba ligando a vida de duas famílias, criando uma relação tensa de angústia, tristeza e violência.
Yang consegue fazer de sua câmera quase um espião, acompanhando os acontecimentos com uma certa distância, quase escondida. As poucas aproximações anteveem um risco, o ápice da tensão latente ao longo de seus 19 minutos. Um bom candidato ao prêmio.
Uma Outra Cidade
Representante do Vietnã no 5º Olhar de Cinema, Uma Outra Cidade estabelece um paralelo entre a paisagem urbana e as relações humanas, refletindo como uma é capaz de moldar a outra.
A narrativa do diretor Pham Ngoc Lan é um tanto esquizofrênica e o roteiro, talvez, o mais experimental e ousado dos quatro curtas já apresentados. E justamente isso é o que o torna um pouco menos palatável. Em tempo: a fotografia de Le Kim Hung é belíssima.
ESCOTILHA PRECISA DE AJUDA
Que tal apoiar a Escotilha? Assine nosso financiamento coletivo. Você pode contribuir a partir de R$ 15,00 mensais. Se preferir, pode enviar uma contribuição avulsa por PIX. A chave é pix@escotilha.com.br. Toda contribuição, grande ou pequena, potencializa e ajuda a manter nosso jornalismo.