Uma jovem de 16 anos foi violentada sexualmente por 33 homens.
O Ministro da Educação, Mendonça Filho, recebeu em seu gabinete um ex-ator pornô que já assumiu em rede nacional ter usado a força física para praticar um ato sexual sem consentimento.
Após o afastamento da primeira mulher a ser presidente do Brasil, o ocupante do cargo extinguiu a Secretaria das Mulheres e compôs o seu ministério sem nenhuma representante feminina, o que não acontecia desde o governo Geisel, na obscura ditadura militar.
Durante a votação para o impedimento na câmara, o deputado Jair Bolsonaro prestou homenagem a um coronel que torturava mulheres colocando ratos em seus órgãos genitais.
A presidente que lutou contra a ditadura e foi eleita democraticamente fazia questão de ser chamada de Presidenta, marcando linguisticamente o seu gênero e sendo xingada de “burra” por conta disso. Entretanto, por ser mulher e assumir uma posição, a presidenta recebia também o tratamento de “vadia” e “vagabunda”.
Se é assim com a ocupante do mais alto cargo da República, se é assim na política, que agora deixa de ter uma representação de 51,4% da população, para as mulheres comuns, o machismo resulta ainda mais violento.
Por isso, o empoderamento é necessário.
Por isso, a fanzine Conserva é necessária.
É com os olhos, mãos e cabeças dessas mulheres que passamos a pensar por meio de suas ilustrações, colagens, fotos e poemas.
Idealizada por Anna Carolina Azevedo e Daniele Cristyne, a publicação independente de Curitiba marca em sua segunda edição, assim como a presidenta, o gênero desde a sua capa até o ponto final.
Não à toa, a presidenta está lá, ao lado de outras importantes figuras femininas que conquistaram o seu espaço nesse mundo machista. Nina Simone, Frida Khalo, Malala Yousafzai, Mafalda, Elza Soares e a curitibana Karol Conká são alguns dos ícones que dão cara à capa.
Já as imagens fotográficas que compõem a parte interna da zine fazem um convite à observação, uma vez que a sua autora, Daniele Cristyne, opta por apresentar clareza em sua produção, oposta à poluição visual dos grandes centros urbanos.
E é com os olhos, mãos e cabeças dessas mulheres que passamos a pensar por meio de suas ilustrações, colagens, fotos e poemas, escritos não só pelas idealizadoras do projeto mas também pela convidada G.L. (vulgo: Giovanna Lima), conhecida pela sua poesia que ilustra as ruas de Curitiba.
Entretanto, na Conserva a conversa é diferente. Por isso, a zine é uma ótima oportunidade para conferir seus poemas com maior profundidade, uma vez que a sua escrita rápida, urbana e cotidiana dos muros precisa de outros contornos para se sustentar no papel.
E ela o faz, trazendo à sua literatura o peso necessário para cumprir a sua função, assim como Anna Carolina Azevedo, que apresenta não só versos, mas também críticas ao se debruçar sobre dois espetáculos do Festival de Curitiba: Pinheiros e Precipícios, baseado na obra de Wilson Bueno, e O Bafo da Gralha, que reuniu textos de escritoras Curitibanas. Analisando os espetáculos a autora compõe outras obras ao trazer literariedade e fazer da sua leitura um prazer mesmo para aqueles que não assistiram às peças.
Da mesma maneira, o ator e autor Ricardx Nolascx apresenta um eu lírico feminino na composição que faz parte da primeira edição de Conserva, marcada por uma textualidade menos densa e mais imagética.
Dessa forma, as questões de gênero, que precisam muito ser debatidas, são abordadas por meio de uma publicação com grandes qualidades artísticas e políticas e que circula de mão em mão pela rua, um dos espaços onde, infelizmente, o machismo ainda perdura.
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