“Que o Helipa, é baile de favela / Que a Marconi, é baile de favela / E a São Rafael, é baile de favela / E os menor preparado pra foder com a xota dela”.
Todo mundo sabe. Todo mundo já ouviu. Todo mundo conhece a letra. Até uma criança de 8 anos.
Presenciei a cena no último sábado em uma formatura. Adultos e crianças em um mesmo ambiente seguiam a tradicional playlist (“YMCA”, “Macho Man”, “Não se reprima”, “Macarena”…), até que começa o baile de favela e todos acompanham a canção. Divertida, mas não deveria ser ouvida e cantada por uma criança.
O que aconteceu em Curitiba no tradicional bairro de Santa Felicidade é um pequeno exemplo da proporção que a letra sexista tem.
Citando os principais pontos onde ocorrem os bailes de rua na periferia de São Paulo, “Baile de Favela” é um dos símbolos da fase mais recente do funk brasileiro, o fluxo, que entre as suas características aborda também a questão sexual, o que não é novidade na música brasileira.
‘Isso aqui ainda tem jeito / O nosso defeito é ficar parado / Então cobre quem foi eleito / Pro nosso respeito se manter guardado’ Mc Garden – Sai de Cima do Muro
Se olharmos para trás veremos que em um passado não tão distante poderíamos assistir na televisão o É o Tchan dançando na boquinha da garrafa ou os Mamonas Assassinas relatando uma tal de suruba.
Mas se antes as letras traziam uma maquiagem, agora são diretas e retas, o que faz com que a sexualidade mostrada na contemporânea “Baile de Favela” possa ser vista como exclusividade do funk e se torne uma arma para quem vê com maus olhos as expressões populares e chegam a usar o ritmo como “argumento” para culpar a vítima em casos de estupro.
Todavia, se grupos que têm apoio de gravadoras e a televisão acatam de maneira conotativa aquilo que o funk diz de maneira denotativa, todo esse tipo de manifestação deve ser questionada. É o que faz Mariana Nolasco ao apresentar uma resposta ao “Baile de Favela”.
A resposta ao funk, porém, não é novidade. Se Mariana replicou o principal representante do fluxo, Edu Krieger fez o mesmo ao se dirigir de forma crítica ao funk ostentação, apontando os erros de uma corrente que apresentava carros importantes e cordões de ouro como símbolos de status.
E se o próprio funk se mostra como um caminho promissor para chegar até os bens de consumo, por outro lado ele acaba imputando ainda mais as necessidades impostas pelos meios vigentes, que obrigam o jovem a ter aquilo que não precisa e muitas vezes o empurra para o crime, opção mais próxima, rápida e fácil para quem mora em comunidades pobres.
Mas a visão crítica sobre o funk e a sua representatividade não vem apenas “de fora”. É possível encontrar dentro do próprio movimento vozes que clamam por uma conscientização e mostram alternativas à banalização.
É o caso de MC Carol, conhecida por “Meu Namorado É um Otário” e que deve lançar no começo de julho a música “Delação Premiada”, que apresenta as diferenças sociais quando alguém da periferia é preso, como no caso do pedreiro Amarildo, e os políticos e empresários envolvidos na operação Lava Jato.
Da mesma maneira, um olhar mais reflexivo sobre a sociedade está presente também nas letras de MC Garden, representante do funk consciente, que reflete sobre o funk e trata de questões sociais como em “Sai de Cima do Muro”, que aborda as questões políticas no ritmo do batidão.
Dessa forma, Carol e Garden informam e empoderam o povo invés de banalizar a mulher ou instigar o consumo.
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