Vergonha e orgulho jamais podem ocupar o mesmo lugar.
Esse foi um dos ensinamentos deixados por Rico Dalasam em Curitiba, na última sexta-feira (13).
Quem presenciou o show do primeiro rapper assumidamente homossexual do país, no projeto Brasis no Paiol, saiu tocado não só pela sua musicalidade, mas também pelas suas palavras, ora em tom de depoimento, ora de humor.
Essa conversa com a plateia só foi possibilitada pelo local em que foi realizado, o lendário Teatro Paiol, inaugurado por Vinícius de Moraes e inspiração para a canção “Paiol de Pólvora”.
Entretanto, se antes o local guardava munição bélica, Dalasam o usou para desfilar as suas canções em sua guerra contra o preconceito, luta que começou assim que pisou no palco, tendo que enfrentar a frieza de uma plateia que assistia sentada ele cantar e dançar a sua animada “Não Posso Esperar”.
Claramente envergonhado, Rico pediu e foi atendido. “Vamos levantar, gente!”.
A partir daí, o cantor de Taboão da Serra, sua banda (teclado, guitarra, percussão e DJ) e o público entraram em uma sintonia que aumentava a cada música tocada e a cada ideia trocada.
Ele se mostrou e conquistou não só os curitibanos como os brasileiros, o que demonstra a necessidade urgente que o rap tinha por um artista como Rico, que contesta todo o atual contexto.
“Quando lancei o Modo Diverso (leia crítica aqui) não sabia o que esperar. Eu tinha uma certa vergonha, um medo, de não saber o que ia acontecer. Eu já cantava algumas coisas, fazia as dobras para a Karol de Souza, mas tinha medo. A gente volta pra casa de madrugada e nunca sabe o que pode acontecer. Eu não sabia como o público iria reagir, não sabia de nada. Eu tinha orgulho de mim, de como eu queria ser, mas ao mesmo tempo tinha vergonha. Foi quando percebi que vergonha e orgulho não podem estar no mesmo lugar. Por isso decidi lançar o EP e ele me possibilitou encontrar várias pessoas que pensam como eu. Pessoas como vocês”.
Esse e outros relatos fizeram com que os presentes fossem conquistados não só pelo cantor, mas também pela pessoa, que revelou a sua vontade de cantar em Curitiba pelo fato de as grandes estrelas lançarem suas turnês por aqui, uma vez que, se der certo nessa cidade, que tem um público (chato pra caralho) bastante crítico, dará certo em qualquer lugar.
E, sem dúvida, deu certo.
“Nunca recebi tanta palma assim na vida. Vou contar pra todo mundo que eu fui lá em Curitiba e recebi um monte de aplauso”.
As palmas realmente foram intensas, muito por conta do formato do show no teatro, o que possibilitou a união de dois distintos públicos: o do rap e o LGBT, mistura difícil que ele, como poucos, consegue efetuar, afinal admitamos: o rap ainda é um gênero musical carregado de homofobia.
Mas, é para isso que Rico Dalasam existe, para quebrar esse e qualquer preconceito com sua música, carisma e postura, talentos que só vieram ao mundo graças à curitibana Karol de Souza, a primeira a levá-lo ao palco e dizer que ele precisava mostrar as suas músicas, a sua cara e se mostrar.
Ele se mostrou e conquistou não só os curitibanos como os brasileiros, o que demonstra a necessidade urgente que o rap tinha por um artista como Rico, que contesta todo o atual contexto.
E se Karol de Souza foi quem o levou para receber os seus primeiros aplausos, a retribuição foi dada quando ele fez questão de pedir que um pouco das suas palmas fossem dadas para a curitibana que estava em meio à plateia encasacada, assim como Rico, que trajava uma brilhante blusa prateada, uma má escolha para quem cantou, pulou, dançou e, em minutos, estava suando.
Foi com essa ferveção que Dalasam mostrou que mesmo na fria Curitiba sempre há pessoas dispostas a dar e receber o calor vindo do amor.
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