Só homens no palco. BPM com baixa velocidade. Letras que falavam sobre a realidade da periferia e pregavam a conscientização. O público, atento às canções, movia apenas a cabeça. Vez ou outra as mãos.
Esse era o cenário habitual de um show de rap no começo dos anos 90, até que surgiu o RPW e jogou todas as convenções para o alto.
O primeiro grupo de rap brasileiro a contar com uma mulher em sua formação não deixou a consciência de lado, mas incluiu a diversão como uma das suas bandeiras, assim como o fato de assumir abertamente gostar de sexo e cerveja. Na capa dos seus discos nada de fotos posadas com cara de mau, mas sim desenhos que criavam uma nova estética. Esporte? O skate. Na receita entrou ainda o crossover, o hardcore e o stage diving.
Estava formada a União Bate Cabeça (UBC), como ficou conhecido o público específico daquele movimento criado pelo RPW, que começou com uma música que se configurava como um manual de como se portar nos shows: “Pule ou empurre”.
A ideia foi trazida por W-Yo, o último a ingressar no grupo e que, por coincidência ou não, representou a última letra da sigla iniciada pela MC Rubia e o DJ Paul.
O primeiro grupo de rap brasileiro a contar com uma mulher em sua formação não deixou a consciência de lado, mas incluiu a diversão como uma das suas bandeiras, assim como o fato de assumir abertamente gostar de sexo e cerveja.
Claro, a aceitação não foi imediata. A resposta que o grupo recebeu para aquele jeito diferente de fazer rap foram alguns narizes torcidos. Por outro lado, teve muita gente torcendo a favor, não só no público, mas no próprio meio.
Entre eles estavam os DJs KL Jay e Cia, os MCs Rappin Hood e Thaíde e o pai do hip-hop no Brasil, Nelson Triunfo. Ao lado deles, outras importantes personalidades como a jornalista Tatiana Ivanovici deram depoimento ao documentário que celebrou os 20 anos do grupo, mostrando que o bate cabeça foi não só estrondoso como também duradouro.
Lançado em 2013, três anos antes de o grupo declarar o fim das suas atividades, o audiovisual se mostra como um importante registro para o hip-hop brasileiro. E já que o vídeo tem a função de resgatar essa história, as imagens de arquivo são fundamentais para trazer o clima que fez com que o bate cabeça se tornasse uma verdadeira união.
Além disso, por meio dele é possível sentir um pouco da personalidade de cada integrante que fez do RPW uma mistura única. Assim, a presença forte de Rubia, o carisma do DJ Paul e a energia de W-Yo foram os ingredientes para uma mistura explosiva.
O resultado, claro, não foi planejado. Pelo contrário. A receita natural fez do RPW uma combustão espontânea que chegou ao seu ápice em situações como na abertura para o show do Cypress Hill ao lado do Planet Hemp, a comemoração dos 300 anos de Zumbi no Anhangabaú e a prova da fidelidade do público que tornou possível a apresentação no Anhembi.
Depois disso, a chama se apagou, mas o incêndio jamais será esquecido.
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