No último sábado de setembro, a 5ª edição da Kingston Kombi, iniciativa da Flying Boys Crew contemplada pelo programa Rumos do Itaú Cultural, me levou a experimentar emoções que há tempos não sentia.
O primeiro conjunto delas se deu pelo evento em si. Saí de lá maravilhado, feliz por ouvir alguém falar sobre o hip-hop com tanto amor, por ver tanta gente reunida com o objetivo de levar a cultura para a rua, por saber que o movimento ainda vive e que um pequeno veículo é capaz de chegar tão longe, propagando os fundamentos do hip-hop para diversos cantos de Curitiba e região metropolitana.
Mas além de todos esses sentimentos positivos que a Kingston Kombi inspira, houve também uma sensação estranha que não sei muito bem definir.
Lembrei da minha adolescência, de quando ia para uma festinha e queria falar com uma menina. Eu queria ir, queria me aproximar e às vezes até já tinha um esquema meio esquematizado.
No entanto, apesar da aparência dizer o contrário, sou extremamente tímido.
Me programava. “Eu vou. Eu vou e vou conseguir conversar com ela. E vai dar tudo certo. Já vou lá. Vou só tomar mais uma cerveja e já vou”.
A cerveja acabava e eu não ia.
Depois ia ao banheiro.
Ia lá fora.
Ia para todos lugares e não chegava a lugar nenhum.
Lembrei disso porque foi mais ou menos assim que me senti quando precisei conversar com o responsável pelo projeto para poder escrever a coluna que deveria ter sido publicada aqui na semana passada.
Eu sei que é simples, que eu sou capaz, que é só fazer e pronto. Ainda assim, as tarefas se transformam em monstros cada vez maiores e que me sinto incapaz de enfrentar.
Era simples. Era só falar com ele e pronto. Ele não iria me bater, não iria me tratar mal. Eu sabia. Apesar disso, adiei o máximo possível.
Logicamente, a conversa foi ótima. Fui recebido de forma simpática e foi justamente esse bate-papo que me fez perceber ainda mais o quanto o projeto é importante.
Depois de tudo, me senti ridículo, aliviado e relaxado.
Mas, ainda era necessário escrever o texto.
É quando tudo se repete.
Apesar de já conhecer o roteiro e o seu final, nos últimos tempos, qualquer responsabilidade tem sido um grande tormento. Isso acontece com as tarefas que faço por satisfação própria, como a coluna aqui n’A Escotilha, e principalmente com as protocolares, que em algum sentido sou “obrigado” a fazer, como as atribuições profissionais e o Trabalho de Conclusão de Curso.
A sensação é quase a mesma de quando me via diante de uma garotinha que queria beijar. Há um bloqueio. Eu sei que é simples, que eu sou capaz, que é só fazer e pronto. Ainda assim, as tarefas se transformam em monstros cada vez maiores e que me sinto incapaz de enfrentar.
Assim, o medo faz com que eu empurre isso cada vez mais pra frente, procrastine o máximo possível até que seja realmente obrigado a fazer.
Ou não.
Ou fico agonizando em frente às atribuições, sem cumpri-las e sem dormir direito, até que o tempo se esgote.
Aí o remorso aumenta ainda mais. Sinto culpa, vontade de chorar e dormir o máximo possível.
E a menina vai embora.
Eu fico.
Bêbado.
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