A estreia de King Kong (1933) no Japão fez um sucesso sem precedentes no início da década de 1930. A ponto de um diretor chamado Torajiro Saito criar um curta-metragem mudo no mesmo ano parodiando o clássico norte-americano. Algum tempo depois, em 1938, os japoneses criaram sua própria versão da história de Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack em The King Kong That Appeared in Edo (1938), dirigido por Sōya Kumagai.
Tragicamente, as duas produções são, hoje, consideradas perdidas. Elas apontam, no entanto, um interesse do cinema japonês de, desde cedo, se apropriar do gorila gigante de Hollywood. Em ambos os casos, o stop motion era deixado de lado por uma homem com uma fantasia, uma tecnologia bem mais barata para a indústria cinematográfica oriental sem muitos recursos.
O uso de King Kong num filme do Japão só foi ocorrer em 1962, na primeira versão de King Kong vs. Godzilla, dirigida por Ishirô Honda. Os direitos só foram parar com a Toho por causa de um projeto nunca realizado de Willis O’Brien. O sucesso do personagem nas telonas foi tão grande no país que rendeu posteriormente um desenho animado chamado The King Kong Show, produzido pela Toei entre 1966 e 1969.
É dessa animação que surge a última encarnação japonesa de King Kong nos cinemas, com A Fuga de King Kong (1967), também dirigida por Honda. O enredo é uma salada de gêneros, mesclando elementos cartunescos voltados para as crianças em uma narrativa de espionagem que bebia muito no imaginário de James Bond.
No geral, ‘A Fuga de King Kong’ possui mais similaridade com ‘King Kong vs. Godzilla’ do que com o clássico de 1933.
Um cientista cria um King Kong mecânico para escavar um buraco no Pólo Norte em busca de uma radiação mágica. O problema é que o robô entra em pane e a equipe decide que é melhor usar o gorila gigante de verdade para o trabalho. Ao mesmo tempo, um grupo de militares formados por japoneses e americanos desenvolvem uma relação com o monstro da Ilha da Caveira (aqui chamada de Ilha Mondo) depois que são salvos de um ataque de uma criatura chamada Gorosaurus.
A equipe de ouro da Toho na década de 1960 trabalhou no projeto. Além de Honda na direção, os efeitos visuais da produção são de Eiji Tsuburaya, responsável por dar vida às explosões na franquia Godzilla. Da série do lagarto radioativo também vinha o compositor Akira Ifukube e o ator de fantasia Haruo Nakajima, que aqui troca a fantasia verde pela pele de gorila.
No geral, A Fuga de King Kong possui mais similaridade com King Kong vs. Godzilla do que com o clássico de 1933. É uma trama que também apela muito para a estrutura de luta-livre, com o Kong de verdade e o mecânico antecipando um grande duelo final – que finalmente ocorre na Torre de Tóquio. A construção é a mesma em que a lagarta escolhe para construir seu casulo em Mothra – A Deusa Selvagem (1961).
O filme chegou ao Brasil sem provocar muito interesse da imprensa em 1961, mas foi considerado um grande sucesso no Japão. Depois da estreia, havia planos para usar King Kong com mais regularidade dentro das tramas de Godzilla. O problema é que os direitos da Toho venceram logo em seguida e o estúdio nunca mais conseguiu levar o gorila gigante novamente para o cinema local.