Pensada para ser o início de um grande universo expandido protagonizado pela galeria de monstros da Universal, A Múmia (2017), do diretor Alex Kurtzman, acabou se tornando um fracasso comercial e de crítica do cinema de horror. A produção, que teve um orçamento aproximado de US$ 125 milhões, arrecadou apenas US$ 79 milhões dentro do Estados Unidos.
Pelas prévias, a narrativa já parecia fora de sintonia. Tom Cruise interpretava um personagem em uma fita de ação, enquanto Sofia Boutella fazia o possível para não parecer a versão feminina de Imhotep, múmia vivida por Arnold Vosloo no longa-metragem homônimo de 1999. Efeitos visuais enchiam a tela. O anúncio glamouroso de que a obra seria parte de um universo compartilhado, chamado de Dark Universe, não ajudou.
Na foto de divulgação do projeto, Cruise e Boutella pousaram charmosos ao lado de Javier Barden, que estará na nova versão de Frankenstein; Johnny Depp, o novo homem-invisível; e Russell Crowe, que interpreta uma repaginação de o médico e o monstro. A imagem, que não poderia representar melhor a indústria cinematográfica de Hollywood, está bem distante do que se espera hoje de um filme do gênero.

Fazer um filme de grande orçamento de horror virou uma tarefa difícil. A lógica é irônica, pois o gênero foi o responsável pelo nascimento da ideia de blockbuster.
Em um momento em que o cinema de horror parece se reinventar com produções de baixo orçamento nos Estados Unidos – muitas delas representadas pelo modelo de negócio da produtora Blumhouse -, um projeto megalomaníaco como A Múmia parece estranho. Títulos como Guerra Mundial Z (2013), O Lobisomem (2010) e Eu Sou a Lenda (2007) frequentemente recorrem a um elenco estrelar para justificar seus investimentos. A aposta financeira geralmente sacrifica a criatividade, a ousadia e o sangue em prol de boas cenas de ação. As metáforas sociais também se perdem em uma trama mais palatável ao público, que geralmente abrange jovens a partir dos 13 anos. Nesse sentido, os enredos não se diferenciam muito de adaptações mais sombrias de histórias de super-heróis.
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O filme de Kurtzman até tenta emprestar elementos de clássicos consagrados, como os próprios filmes da era de ouro da Universal, além de referências ao cultuado Um Lobisomem Americano em Londres (1981). O resultado diverte, mas se torna rapidamente esquecível. Especialmente diante de um ano que nos deu Fragmentado (2017), Corra! (2017) e Raw (2016).
Fazer um filme de grande orçamento de horror virou uma tarefa difícil. A lógica é irônica, pois o gênero foi o responsável pelo nascimento da ideia de blockbuster, com a estreia de Tubarão (1975). Alien (1979) ficou famoso ao adaptar conceitos de produções baratas para criar visuais incríveis e assustadores. Como esse tipo de recurso está bem acessível aos produtores independentes, sobra apenas o investimento em glamour e nas estrelas pelos grandes estúdios.