No início da década de 1980, John Landis e Joe Dante assistiam a um filme de horror juntos quando tiveram uma epifania sobre o gênero. O título tinha mais defeitos do que qualidade. No meio da projeção, o diretor de Gremlins se vira para o amigo e diz: “sabe de uma coisa? A vida é muito curta”.
Landis revelou a história em uma entrevista a Mick Garris, na websérie Post Mortem (veja aqui). Para o cineasta, o momento serviu como uma revelação que mostrava a necessidade de se refletir sobre o que se decide ver. Desde criança, ele era fanático por filmes de monstros e achava que precisava consumir tudo o que fosse lançado com o tema. “Mudou minha vida”, disse.
Antes da internet, o trailer, o boca-boca e a arte estilizada de um longa-metragem eram o suficiente para garantir a compra de um ingresso ou a locação de um filme.
Dilema semelhante parece perseguir cinéfilos com algum tipo de predileção na sétima arte. Aparentemente, existe uma normativa informal que defende que o público segmentado precisa esgotar as produções culturais de que possui mais afinidade. O pensamento é o mesmo que leva as pessoas a se torturarem na leitura de um livro ruim de um autor que gostam ou a gastar dinheiro com um álbum medíocre de um bom músico. O colega Rodrigo Lorenzi escreveu um texto ótimo aqui na Escotilha sobre quando devemos abandonar uma série que desandou (leia mais), que também cabe como exemplo aqui.
Como em outros gêneros cinematográficos, o número de títulos de horror despejados anualmente no mercado dos Estados Unidos é absurdamente alto. Para acompanhar todos é preciso monitorar sessões de cinema, listas de lançamentos de DVDs e Blu-Rays, programações de festivais e serviços de streaming. Ainda assim, o radar pode deixar de fora produções alternativas de fora da indústria. A tarefa é praticamente impossível e olha que nem chegamos a somar o que é feito em outros países.
Para ver, é preciso escolher. A informação por meio de sites como O Boca do Inferno (leia mais) ou blogs especializados pode ser uma saída para não ter que largar alguma porcaria no meio – algo que odeio fazer. Antes da internet, o trailer, o boca-boca e a arte estilizada de um longa-metragem eram o suficiente para garantir a compra de um ingresso ou a locação de um filme. Foi assim que vi os dolorosos A Bruxa de Blair 2 – O Livro das Sombras (2000), O Dia do Terror (2001) e House of the Dead: O Filme (2003). Tento evitar esse tipo de experiência hoje, acho que a vida é muito curta para ver tanta porcaria.