Meu primeiro contato com A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy (1985), de Jack Sholder, foi aos oito anos. Prometi a um grupo de amigos que veríamos um filme do Freddy Krueger. Como não sabia absolutamente nada sobre o personagem, com exceção das lâminas na mão e do pullover listrado, escolhi o VHS pela capa. A mais assustadora tinha um jovem casal abraçado em um banheiro. Ele olhava para o espelho e via, no próprio reflexo, um esqueleto com lâminas prontas para dilacerar as costas da namorada.
A trama mostra Jesse Walsh (Mark Patton), um adolescente que se muda para uma casa assombrada pelos pesadelos com Freddy Krueger (Robert Englund). A sessão foi um sucesso. Logo depois, resolvemos fazer uma maratona e assistir à série inteira em sequência, e foi assim que conheci a franquia criada por Wes Craven.
Somente quando revi a sequência, em 2011, é que notei as conotações homoeróticas. Em uma das cenas, Jesse deixa a namorada sozinha na cama para conversar com um amigo. Em outra, ele dança acariciando um objeto fálico. Em um certo momento, o treinador que persegue o jovem na escola o seduz em um bar gay. A própria ideia de Krueger, um violento pedófilo, possuir seu corpo parece estranha aos ouvidos hoje em dia.
Somente quando o filme foi redescoberto em DVD é que ele alcançou o status de cult entre os fãs.
Evidentemente, não fui o único a perceber o subtexto. Na época da estreia, em 1985, muitos conservadores criticaram a obra por causa dessas mensagens escondidas. Os envolvidos na produção negaram qualquer intenção de discutir a homossexualidade e o caso foi esquecido. A sequencia foi sumariamente ignorada no restante da franquia, que não usou nenhum conceito ou personagens da narrativa.
Quando a série chegou aos DVDs, os fãs redescobriram o subtexto e o título começou a aparecer em listas com os filmes de horror mais gays de todos os tempos. Foi o suficiente para que a controvérsia fosse um dos temas do extenso documentário Never Sleep Again: The Elm Street Legacy (2010), que homenageia o legado da criação de Craven na cultura norte-americana nas últimas décadas.
Questionado pelos diretores Daniel Farrands e Andrew Kasch, o roteirista David Chaskin admitiu que escreveu a sequência de A Hora do Pesadelo (1984) para discutir a homossexualidade. Patton, que é gay, se sentiu super-ofendido pela confissão e decidiu confrontar ele mesmo o escritor. Afinal de contas, sua carreira em Hollywood praticamente acabou após as críticas que recebeu pela interpretação de Jesse.
Em entrevistas (leia mais), o ator diz que a intenção de Chaskin era criar uma mensagem homofóbica. Por isso, o treinador gay é violentamente assassinado e a obra tem um desfecho heterossexual. A atuação de Patton e a direção de Sholder viraram o roteiro de ponta cabeça e o longa-metragem se tornou uma metáfora sobre a descoberta da identidade sexual.
O mais curioso nessa história é que, após a estreia de Never Sleep Again: The Elm Street Legacy (2010), Patton passou a ser chamado para novos papéis. Sua presença em uma convenção dedicada à A Hora do Pesadelo 2: A Vingança de Freddy o fez perceber o quanto a trama se tornou um ícone para jovens homossexuais. Ele, inclusive, prepara um documentário sobre sua experiência na série, chamado Scream, Queen: My Nightmare on Elm Street (2016).
Pessoalmente, acho que esse exemplar de Freddy Krueger tem mais defeitos do que acertos. Mas gosto tanto da história de superação da fita, que estou me preparando para revê-la.