A carreira do cineasta brasileiro Armando Fonseca, da Infravermelho Filmes, pode estar muito próxima de uma mudança brusca de rumo. Isso porque o diretor, ao lado do colega Kapel Furman, atualmente finaliza o primeiro corte de Skull – A Máscara de Anhangá, filme brasileiro bancado pela empresa texana Cinestate. A marca também é proprietária da revista Fangoria, a maior publicação de cinema de horror dos Estados Unidos.
Fonseca e Furman já são conhecidos dentro da produção nacional de gênero por seus curtas-metragens e pelo projeto Desalmados, que há anos tentam tirar do papel. Além disso, ao lado de Raphael Borghi, eles apresentam o programa Cinelab, do Universal Channel, um reality show sobre efeitos visuais práticos. A dupla também dirigiu o longa-metragem A Percepção do Medo (2016), que conta a história de um homem que se torna um psicopata ao ser reprimido pela sociedade em que vive.
Skull – A Máscara de Anhangá é financiado pelo produtor Dallas Sonnier, que soube da ideia depois de uma apresentação dos diretores na primeira edição do Fantasmercado, evento do Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre (Fantaspoa) voltado para o fomento de produções cinematográficas latino-americanas, em maio do ano passado. Se tudo ocorrer bem, o filme deve ser lançado em breve pelo selo da Fangoria e circular o mundo por meio de festivais especializados.
Fonseca concedeu, por telefone, uma entrevista exclusiva à Escotilha, na qual contou um pouco as expectativas para o novo longa e comentou o andamento de novos projetos. Leia abaixo:
Escotilha » Como andam os preparativos para o Skull – A Máscara de Anhangá?
Armando Fonseca » Estamos bem animados. O Skull começou como um projeto alguns anos atrás. É um personagem que a gente já tinha usado no Cinelab, sempre como um serial killer. Aí montamos um background, explicando de onde veio. Conseguimos apresentar no primeiro ano do Fantasmercado, no Fantaspoa, e chegou até o Dallas Sonnier, da Cinestate. Nesse momento, a gente está editando e fechando um corte para poder mostrar para os produtores nos Estados Unidos.
O projeto andou rápido, considerando que o Fantasmercado foi em maio do ano passado…
Vamos ter um corte pronto antes de ter o próximo Fantaspoa [risos]. Queremos fechar nossa parte até agosto. E aí vamos mandar para o Dallas. Ele é um cara que já produziu muito e consegue botar o filme em diversos festivais.
Toda história que tem um toque de sobrenatural pode provocar curiosidade. Tenho facilidade de encaixar as histórias que eu crio no terror. Também temos o know-how de como produzir isso barato.
E sobre o que é o filme?
Quisemos criar uma mística para que fosse uma coisa daqui. Skull é um enviado de uma entidade que se chama Tahawantynsupay, que quer encarnar na terra e usa certos elementos para isso. Nesse caso é uma máscara, que, quando ativada, encarna num assassino que começa a fazer sacrifícios para poder trazer o tal tynsumpay à terra. A trama ocorre no mundo moderno, com o Skull encarnado e dando trabalho para a polícia [risos].
Vi que estão descrevendo o filme como um “slasher de ação”, mesclando diferentes gêneros…
Então, temos nossas referências. Pessoalmente, curto muito desses filmes de porrada, como Adrenalina (2006). Também gosto de Madrugada dos Mortos (2004) e Extermínio (2002), que são rápidos e não aquele terror pesadão. As pessoas parecem querer filmes cada vez mais acelerados e essa é uma tendência que seguimos. O próximo filme que vamos rodar no fim do ano é um drama-suspense, com aspectos sobrenaturais e uma infecção de monstros.
Que projeto é esse?
Estamos planejando rodar o longa-metragem de A Última Cova. Já tem um pessoal captando [recursos] e a ideia é filmar a história inteira. Usamos dois atos desse roteiro para fazer um curta-metragem e uma história em quadrinhos. No longa-metragem, tudo será maior.
Tive a oportunidade de conferir os quadrinhos e o curta e gostei bastante. De onde vem essa ideia de produzir narrativas que se complementam por diferentes mídias?
Pessoalmente, espelho muito o que quero fazer nas coisas que gosto de consumir como diversão. Curto muito essas coisas de comprar boneco do homem-aranha, além de ter o quadrinho e o filme. Então pensamos: “por que não fazer isso com as nossas próprias produções?”. Dá para contar uma história que aconteceu fora do filme em quadrinhos, fazer action figure e até um conto para um livro. Foi o que o Kapel fez com Cidade Cadáver, um dos nossos projetos de longa-metragem.
Aproveitando que mencionou o Kapel, a presença do personagem dele de Desalmados no curta de A Última Cova indica que estão construindo um universo compartilhado ambientado num apocalipse zumbi brasileiro.
É isso aí mesmo. Eu curto muito o Kevin Smith, que faz filmes de gêneros diferentes, mas naquele universo de personagens que convivem, se conhecem e se relacionam. Pensamos em colocar o Kapel ali para ter uma ligação com o que já fizemos. A Marvel tá fazendo isso no cinema agora, mas eles faziam isso nos quadrinhos há 60 anos. A gente tem três projetos ambientados nesse mesmo universo: A Última Cova, Três Bares e Desalmados.
E como está o andamento dessas outras produções, especialmente Desalmados, que é um projeto antigo da Infravermelho?
A Última Cova é o que está mais encaminhado. Desalmados é um projeto que ajudou a fazer nossa cartilha. Muita coisa surgiu dali e a proposta não sumiu. Uma hora a gente vai fazer [risos].
Seus filmes apostam nas narrativas de zumbis, que parece um subgênero excessivamente explorado no horror. Ainda há espaço para novidade nesse tipo de produção?
Gosto muito do tema zumbi e morto-vivo. Sinto que dá para ter diferentes níveis nas tramas e dá para contar histórias bem interessantes. Zumbis existem desde os anos sessenta e ficou batido com The Walking Dead. Fizeram até propaganda da Coca-Cola com zumbi, o que era inimaginável dez anos atrás. Mas ainda dá para brincar muito com isso, fazendo filme de terror, de ação e de drama.
Os filmes da Infravermelho também me parecem muito interessados nessa presença do sobrenatural…
Toda história que tem um toque de sobrenatural pode provocar curiosidade. Tenho facilidade de encaixar as histórias que eu crio no terror. Também temos o know-how de como produzir isso barato. Não vamos quebrar a cabeça para colocar um submarino no futuro. Pensamos no que é possível de ser criado e adicionamos os efeitos especiais, que ajudam a dar production value.
E quando o público poderá ver A Percepção do Medo?
Olha, muita gente faz filme no Brasil que fica parado porque simplesmente não tem onde exibir, saca? A Percepção do Medo correu durante alguns anos por festivais. Inclusive, no mesmo ano em que passou na Ásia, no México e em um monte de outros lugares, foi ignorado por várias mostras daqui. Depois que ganhou prêmios, foi super bem aceito aqui. O filme passou no [canal fechado] Space e tem futuro. Temos até uma nova parceria para colocar em streaming.
Acho a narrativa do filme bem interessante e maluca…
Pois é [risos]. Na verdade, a gente queria contar a história em três cidades. Seria um filme dirigido por mim, pelo Kapel e pelo [cineasta] Gurcius [Gewdner]. Acabou que o trecho do Gurcius ficou tão grande, que ele fez o próprio filme dele. Aí a gente juntou as nossas duas histórias, uma em Brasília e a outra em São Paulo. Ouvi muitas análises que diziam que era um filme meio Taxi Driver (1976), sobre um cara que tá ficando maluco e entra nessa de ver uns monstros e começar a tomar remédio. Isso aí é um bom caso para se analisar a percepção do público de um filme…
Quais os planos para a produtora agora?
O Skull não tem data de estreia porque é o Dallas quem vai decidir quando lançar. O filme é dele. A gente só produziu. Pelo andar da carruagem, vamos rodar o A Última Cova e, em seguida, o Área de Escape. Isso tudo pode explodir na minha cara. Todo ano a gente tá nessa de que vai produzir um filme, mas depois acaba produzindo outro [risos].