No início dos anos 90, a atriz Chrystianne Rochat esquiava pelos Alpes franceses quando se deparou com um festival de cinema fantástico na cidade de Avoriaz. Sem muita familiaridade com aquele tipo de evento, ela mergulhou na programação e se apaixonou. “Fiquei tão surpresa e fascinada que disse a mim mesma que um dia teria um festival tão mágico quanto aquele.”
Em 2018, depois de vários anos atuando no cinema independente como produtora e diretora, ela decidiu que deveria colocar o velho plano em prática. Nascia ali o Rock Horror Film Festival, mostra de filmes de Niterói que mistura narrativas de horror e rock and roll e chega a sua terceira edição em 2020.
Neste ano, a pandemia do novo coronavírus mudou os planos dos organizadores, que tiveram que adaptar o evento ao modelo remoto. Ao todo serão exibidos 57 títulos, entre os dias 17 e 27 de setembro, na plataforma Festhome TV. Cada sessão de 120 minutos, que mistura curtas e longas, custa 2,5 euros (cerca de R$ 15,60, na cotação de 15/09). O pagamento pode ser feito via cartão de crédito pelo serviço Paypal. A programação ainda inclui workshops e apresentações musicais.
Na entrevista abaixo, Chrys, idealizadora e diretora do Rock Horror Film Festival, conta como foi a organização do festival virtualmente e discute seu envolvimento com o cinema de horror.
Escotilha » Como foi a adaptação do festival para o modelo remoto?
Chrys Rochat » Somos muito tecnológicos e o processo de migração não foi tão complicado. Foi mais árduo porque tivemos de nos dedicar mais à preparação dos materiais puramente virtuais. Neste ano temos 12 teasers e 50 vídeos de diretores convidando o público para o filme deles no festival. Serão 12 sessões diárias ininterruptas de duas horas, totalizando 24 horas de filmes em 11 dias.
É bastante coisa…
São 132 sessões. Também focamos mais nos workshops e mesas redondas. São 24 oficinas e a maior parte dos diretores vão participar das mesas de discussão. Serão três encontros diários com os realizadores em 3 línguas. Eu não teria tempo de fazer tantas mesas se não fosse de forma virtual e nem teria todos eles aqui comigo. Está sendo um ótimo modelo que pretendo adaptar para a forma híbrida quando for seguro voltar ao cinema.
A ideia de fazer os shows de rock integrados a ele foi para dar a experiência completa à audiência. É um mergulho no cinema fantástico com trilha sonora, digamos.
E no que o público deve ficar de olho como destaque na programação?
Ay, papa! Tem tantos [risos]. Uma coisa curiosa é que temos um longa americano chamado Celebrity Crush, cujo astro e diretor foi ator mirim em Poltergeist (1982). Temos também um filme sueco chamado Mareld, que se passa num barco e é um misto de documentário e ficção. Tem muitos curtas interessantes no festival e novas linguagens também.
Um dos grandes diferenciais do festival parece ser a presença de apresentações de bandas de rock…
A ideia de fazer os shows de rock integrados a ele foi para dar a experiência completa à audiência. É um mergulho no cinema fantástico com trilha sonora, digamos.
Como isso está sendo pensado nessa edição virtual?
Serão lives musicais com artistas do Brasil, Argentina, México e Espanha. Antes das lives das bandas, faremos entrevistas com elas para falar de seu trabalho. Todas as bandas são autorais.
Estou de olho nos filmes nacionais que serão exibidos no festival. Acho legal esse estímulo à produção brasileira…
A ideia é, definitivamente, estimular a produção local. Tenho muita vontade de poder fazer mais pelo cinema daqui, além do que já estamos tentando fazer com o projeto de trazer esses profissionais e criadores para mais perto de nossos futuros cineastas. Também premiamos o vencedor da categoria de curtas “Brasil Assombrado” com um prêmio do Centro Técnico Audiovisual de empréstimo de equipamento. Agora, imagine se pudéssemos oferecer prêmios ainda maiores? Seria lindo, não é? Acontece que nosso festival não é financiado com dinheiro público. É uma iniciativa privada e para fazer mais, precisaríamos de parceiros e patrocinadores que apoiassem e apostassem no potencial dessa ideia.
O que te atrai no cinema de horror a ponto de criar seu próprio festival?
Além de ser um campo rico e excitante, está puramente no plano do imaginário e, francamente, é o que falta à nossa sociedade hoje em dia: explorar essas fronteiras do imaginário e deixar de ser tão rasa e reativa.
Você tem algum outro projeto ligado ao horror em andamento?
Tenho dois longas em desenvolvimento, no momento: Duty Free um drama/aventura roadmovie tragicômico, que trata do direito de ir e vir, e já está em captação; e um thriller que ainda estou escrevendo o roteiro e deve entrar em captação em novembro.