A Ilha Desconhecida (1948) é uma espécie de elo perdido entre os primeiros longas-metragens de monstros gigantes dos Estados Unidos e os filmes de tokusatsu da Toho. Ao lado de O Despertar do Mundo (1940), a obra foi pioneira ao optar por colocar atores em fantasias para interpretar enormes e ameaçadoras criaturas no Ocidente.
Realizada fora do sistema de estúdio, o título bebe muito na fonte de King Kong. Um casal de exploradores decide bancar uma viagem a uma ilha perdida no Pacífico. Para isso, recrutam um ganancioso e perigoso navegador e contratam um traumatizado ex-soldado da segunda guerra para levá-los até lá. Na tripulação, para completar o caldo, há uma série de serviçais revoltados com as condições de trabalho no navio.
A tal ilha é habitada por dinossauros, que aparecem na tela como simplórios bonecos porcamente animados ou com o uso de fantasias de borracha. Os ceratossauros, que são mais proeminentes na trama, não são nada realistas. As cabeças caem para baixo em tomadas distantes. Quase como se o diretor, Jack Bernhard, estivesse com vergonha do visual das criaturas.
Como outros títulos similares da época, há em A Ilha Desconhecida um tom colonialista branco muito forte.
No documentário Men in Suits (2012), o ator Bob Burns, especialista em efeitos especiais de maquiagem, relatou que os trajes usados em A Ilha Desconhecida eram tão quentes que provocaram o desmaio de um dos atores que interpretava uma das ameaças. A cena, inclusive, foi mantida no filme.
A grande estrela da narrativa é uma preguiça gigante – que tem aqui o design de um monstro deformado. É ela quem coloca os humanos em perigo e protagoniza uma batalha com um ceratossauro no clímax do enredo. O combate também é muito remanescente de King Kong.
Como outros títulos similares da época, há em A Ilha Desconhecida um tom colonialista branco muito forte. Parte da tripulação estrangeira é vilanizada por querer melhores condições de trabalho. Vários dos personagens têm perfil desbravador, que parte em viagem para desbravar sem se importar muito com as vítimas casuais que não são de sua própria etnia.
O filme chegou ao Brasil no Natal de 1949. Ficou duas semanas em cartaz em alguns poucos cinemas. Um anúncio publicado no dia 25 de dezembro no Correio Paulistano dizia que o lançamento era um estrondoso sucesso de público. Mais de 70 anos depois, pouca gente se lembraria do filme por aqui.