P ara o fim de 1964, a Toho planejava o lançamento de O Barba-Ruiva (1965), baseado na obra do romancista Shūgorō Yamamoto e dirigido por Akira Kurosawa. Depois que o cineasta e o astro Toshiro Mifune adoeceram, a produção precisou ser adiada. Isso acabou criando um buraco no calendário de estreias do estúdio.
Sem querer perder a janela, o produtor Tomoyuki Tanaka, às pressas, colocou no forno uma sequência de Godzilla contra a Ilha Sagrada (1964), que havia acabado de chegar aos cinemas japoneses. O plano era aumentar o número de monstros na tela, trazendo de volta o gigante radioativo, Mothra e Rodan, além de introduzir um novo antagonista.
Ghidrah – O Monstro Tricéfalo (1964) contou com o retorno de boa parte do elenco do filme anterior, bem como o diretor Ishirô Honda e o técnico de efeitos visuais Eiji Tsuburaya. A novidade era o aparecimento de King Ghidorah, um dragão alado alienígena de três cabeças, que viraria o principal antagonista de Godzilla ao longo das próximas décadas.
Em Ghidrah – O Monstro Tricéfalo, Godzilla começa a se transformar em um relutante protetor dos seres humanos.
Sem muito tempo para trabalhar na trama, o roteirista Shinichi Sekizawa bolou uma rocambolesca história sobre uma jovem princesa que, depois de sofrer um atentado, incorpora um espírito do planeta Vênus, que foi destruído por Ghidorah.
Tida como profeta e sem lembrança de sua vida anterior, ela começa a alertar os japoneses sobre a iminente ameaça kaiju, que virá para destruir a humanidade. A única chance de salvar a Terra é a união de Godzilla, Rodan e Mothra.
O roteiro ainda tem espaço para gangsters, burocracias governamentais e a presença das pequenas fadas da Ilha Sagrada. Com tantos elementos, os monstros acabam em segundo plano. Mesmo assim, o apressado projeto de Tanaka se tornou um dos títulos mais importantes da franquia durante a Era Shōwa.
Em Ghidrah – O Monstro Tricéfalo, Godzilla começa a se transformar em um relutante protetor dos seres humanos. A mudança de comportamento do monstro é gradual. A primeira vez em que aparece em cena, mais de meia-hora depois dos créditos iniciais, ele continua destrutivo e irritado.
Passa boa parte do tempo frente a frente com Rodan, numa luta de marionetes mal filmadas por Tsuburaya. É preciso que Ghidorah apareça em cena para que seu comportamento mude.
Nessa época, Honda já estava começando a se queixar dos rumos da série. Em primeiro lugar porque os orçamentos estavam cada vez menores – tanto a fantasia de Godzilla quanto o boneco de Mothra foram reaproveitados de A Ilha Sagrada.
Depois, crescia a cafonice da franquia, com os monstros em uma partida de vôlei com rochas em uma montanha e em franco diálogo por grunhidos, traduzidos ao público pelas pequenas fadas.
Na época da estreia do filme no Brasil, em fevereiro de 1967, o jornal carioca Correio da Manhã descreveu a produção como uma galhofa. O termo é acertado. O que o salva hoje são os últimos 20 minutos, que colocam todas as criaturas para brigar. O confronto é inventivo, engraçado e serviu para dar o tom para as produções que ainda estavam por vir.
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