Lançado há pouco mais de duas semanas nos Estados Unidos como um exclusivo do serviço de streaming Shudder, Host (2020) é a primeira produção inteiramente gravada pelo Zoom a chegar ao grande público neste ano. A narrativa conta a história de um grupo de amigas que participa de uma reunião virtual com uma médium para tentar entrar em contato com os mortos, mas acabam invocando um demônio.
Em mais de um sentido, o filme, rodado durante a pandemia, é uma manifestação bastante simbólica do momento em que vivemos. Além de ser ambientada em uma das plataformas que mais cresceu em número de usuários desde o início da crise da Covid-19, a trama reconhece as adaptações provocadas pela doença. As personagens usam máscara, reagem quando alguém tosse e se cumprimentam com o cotovelo.
Dirigida por Rob Savage, a obra também discute a necessidade de contato com o próximo provocada pelo isolamento. É a saudade – e no encontro remoto ao qual todos já recorremos – que as leva para a brincadeira sobrenatural (e as conecta com a entidade demoníaca).
Talvez o modo mais importante com que Host represente estes tempos singulares seja na apresentação de uma nova linguagem para o horror.
Talvez o modo mais importante com que Host represente estes tempos singulares seja na apresentação de uma nova linguagem para o horror. Alguns elementos da narrativa seriam incompreensíveis se ela fosse lançado há alguns anos, hipótese impossível porque o filme é acima de tudo fruto deste momento.
Savage não perde nenhum dos 57 minutos do enredo para explicar como funciona o Zoom ou a mecânica básica de uma videoconferência. O roteiro espera que isso já esteja dado para o espectador. Isso é uma adaptação importante do gênero a uma forma (relativamente) nova de comunicação.
Essa capacidade de assimilação de novas linguagens visuais no cinema de horror não é, de forma alguma, nova. Canibal Holocausto (1980), de Ruggero Deodato, incorporava as câmeras móveis à narrativa – apontando o caminho para o que mais tarde seria chamado de found footage. A Bruxa de Blair (1999) adaptava para o horror a estética do vídeos caseiros. REC (2007), Atividade Paranormal (2007) e Cloverfield – Monstro (2008) transformaram os registros digitais em testemunhos de contato com seres monstruosos.
Desde o início da década, produções como The Den (2013), Perseguição Virtual (2014) e Amizade Desfeita (2014) já se apropriaram da tela do computador para criar histórias de horror. O isolamento e nosso constante contato com a mediação do computador certamente serve de fermento para o aparecimento de outras narrativas do estilo, como Host e alguns episódios do longa-metragem brasileiro Antologia da Pandemia (2020). Meu palpite, no entanto, é que esse é apenas o começo desse subgênero gravados de plataformas virtuais que usamos no nosso dia a dia.