Logo nos primeiros trailers de divulgação de Jurassic World: O Mundo dos Dinossauros (2015), o destaque era uma cena em que mosassauro devora um tubarão na frente de um público que vibra, aplaude e sorri diante da criatura marítima. Para mim, o momento é o mais emblemático da produção. Isso porque, como o filme do diretor Colin Trevorrow renova uma franquia criada por Steven Spielberg, a isca, ali, parece uma referência direta à Tubarão (1975).
Essa pequena metáfora do novo que devora o velho parece ser o cerne dos problemas do quarto exemplar da série que começou em Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993). O longa-metragem, que estreou na semana passada nos cinemas, recicla ideias do filme original ao colocar monstros pré-históricos como atrações de um zoológico. Do clássico de 1975, ele empresta o clima de horror, que troca a praia cheia de turistas por uma ilha automatizada.
A grande diferença é que, ao ser lançado em uma era em que a computação gráfica está disponível em larga escala nas salas de cinema comercial, os dinossauros de Jurassic World se tornam criaturas banalizadas pelo público, como o mosassauro que, diante de sua grandeza e ferocidade, só consegue arrancar risos e aplausos da plateia. Ao tentar renovar o filme de Spielberg, a produção parece ignorar que as mudanças na cultura dos efeitos visuais foram profundamente alteradas nas duas décadas que separam as obras.
O mosassauro que devora o tubarão em Jurassic World é uma metáfora simbólica para o novo cinema que abocanha o velho com aplausos do público.
Drama semelhante sofreu a refilmagem de Godzilla (2014), em que o diretor Gareth Edwards parecia ter tanta reverência ao monstro que intitula a obra, que basicamente não o mostrou na tela. A tentativa de fazer suspense com a aparição da criatura, na verdade, remontava o clássico japonês de 1954, quando Ishirô Honda – provavelmente por falta de recursos – adiou a aparição do lagarto radioativo para a segunda metade da projeção.
O resultado foi um Godzilla de computação gráfica que não produz deslumbramento algum para o público, acostumado a ver esse tipo de monstro gigante nos televisores e cinemas mundo afora. Círculo de Fogo (2013), de Guilhermo Del Toro, está aí para provar como os monstros gigantes não impressionam mais o público. Trevorrow e Edwards parecem interessados em resgatar essas produções do passado para uma nova geração de cinéfilos ao referenciar as tramas dos filmes originais. Evidentemente, isso presume que esses clássicos, de alguma forma, serão devorados pelos novos títulos com apoio e aplausos do público.
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Em tempo: a morte de Christopher Lee na semana passada foi bastante brutal para o cinema de horror. O ator, que circulou por todos os gêneros e marcou presença em muitas franquias de fantasia e ficção científica nos últimos anos, fazia parte do petit comité formado por Bela Lugosi, Boris Karloff e Lon Chaney Jr., entre outros. Essas figuras usaram a tela para se tornarem símbolos de uma monstruosidade que ultrapassa a de seus personagens.