Na imprensa estrangeira, a estreia de Corra! (2017) foi bastante associada a um novo momento do cinema de horror, do qual o filme de Jordan Peele faria parte. Por volta de 2014, o gênero parece ter iniciado uma renovação, que deu início a um frutífero ciclo de produções norte-americanas – protagonizado por títulos de excelência, geralmente lançados por produtoras independentes.
O Babadook (2014), Corrente do Mal (2014) e A Bruxa (2015) costumam ser mencionados como exemplos dessa nova safra, ainda disforme de longas-metragens. Baratas, essas produções costumam circular bastante por festivais e conquistar o público pelo boca a boca. São narrativas que carregam algum tipo de comentário social, sem ignorar as convenções típicas do horror.
Ao ser questionado sobre o tema em uma entrevista recente, o produtor Jason Blum disse que esse novo momento do gênero desfruta de uma liberdade dificilmente vista nos lançamentos comerciais. Cineastas podem experimentar conceitos e histórias arriscadas, algo que tradicionalmente não é comum vermos em obras semelhantes de orçamentos astronômicos.
A virada do século geralmente é associada a uma estagnação da criatividade do horror, que passou da autoconsciência à reciclagem de formatos constantes, com excessos de refilmagens, tramas repetitivas e formatos.
A história do horror nos Estados Unidos é muito vinculada aos comportamentos dos estúdios. Na década de 1930 e 1940, a Universal dominava o cinema de monstros com adaptações de clássicos góticos, como Drácula (1931) e Frankenstein (1931). A ausência de atenção da indústria aos títulos de exploração foi o que levou a ascensão dos midnight movies na década de 1960, coroando Roger Corman como o rei dos filmes B. Praticamente todos os nomes do new horror foram adotados por Hollywood. John Carpenter, Wes Craven e Brian de Palma entraram na década de 1980 como grandes autores, que deixavam marcas na tela como pintores.
A virada do século geralmente é associada, às vezes injustamente, a uma estagnação da criatividade do gênero, que passou da autoconsciência à reciclagem de formatos constantes, com excessos de refilmagens, tramas repetitivas e formatos. Os orçamentos cada vez maiores amornaram as apostas.
A estreia de Guerra Mundial Z (2013) parece emblemática para entender essa queda do grande cinema de horror. Embora tenha se saído relativamente bem nas bilheterias mundiais, a obra de Marc Forster protagonizada por Brad Pitt virou um ícone da monotonia propiciada pelos projetos mais comercialmente ambiciosos de horror – que raramente continham cenas genuinamente amedrontadoras.
A chegada de O Babadook (2014), repleto de ideias novas e criativas, ao catálogo da Netflix há dois anos impressionou o público. De lá para cá, as surpresas têm sido recorrentes. Somente no ano passado, O Homem das Trevas (2016), Hush – A Morte Ouve (2016), The Girl With All The Gifts (2016) e Sala Verde (2015) figuraram na lista de muita gente como os melhores do ano.
As portas abertas ao cinema independente nessa revolução no horror, que claramente veio de baixo, também possibilitaram uma recepção aos estrangeiros. Boa Noite, Mamãe (2014), O Lamento (2016) e Invasão Zumbi (2016) são alguns dos exemplos que ecoaram entre os fãs do gêneros. Corra! (2017) é apenas um nesse mar de grandes produções que temos conseguido conferir nos últimos tempos.
Que este bom momento tenha vindo para ficar!