O primeiro Sexta-Feira 13 (1980) nasceu como uma experiência de marketing do diretor Sean S. Cunnigham. Oriundo do cinema de exploração dos anos 1970, o cineasta e produtor resolveu publicar na revista Variety uma arte para divulgar o projeto do futuro slasher, que nem sequer existia. A peça anunciava que aquele seria “o filme mais assustador já feito”.

A estratégia obviamente deu certo. O longa-metragem saiu do papel, mesmo que o título tenha precedido o enredo. O resultado, que misturava conceitos de Halloween (1980) e Banho de Sangue (1971), se tornou uma das franquias mais celebradas do cinema de horror.
É bem possível que o sucesso de Sexta-Feira 13 deva mais à habilidade de Cunnigham como vendedor do que à qualidade da obra em si. Até porque, naquele mesmo ano, foram lançados os semelhantes A Morte Convida para Dançar (1980), O Trem do Terror (1980) e Trilha de Corpos (1980). Todos apresentavam mais ou menos o mesmo conceito de um assassino mascarado se livrando criativamente de suas vítimas, uma a uma.
É presunçoso afirmar categoricamente que o marketing é o único responsável pelo retorno financeiro da produção. Em seu livro Dos Meios às Mediações, o pesquisador da comunicação Jesús Martín-Barbero defende que qualquer interpretação simplória de um processo de recepção, como a massiva presença do público nas salas de exibição, deve ser vista com cautela.
A relação de um filme com sua audiência é sempre um processo de mediação, segundo o autor espanhol, radicado na Colômbia. Na equação, entram preferências de consumo, interesses de mercado e estratégias de divulgação. É fácil dizer que Hollywood só produz adaptações de histórias de super-heróis e ignorar que o público chega a aplaudir quando um único título chega a ocupar 80% das sessões de um país imenso como o Brasil (leia mais).
Se aquele slasher não tivesse ocupado o espaço de ícone cultural é bem possível que outro título semelhante tivesse assumido a coroa da franquia sobre Jason Voorhees.
Para Martín-Barbero, os efeitos de uma produção midiática como um blockbuster são sempre compartilhados com os indivíduos que estão na outra ponta do financiamento. As pessoas não são manipuladas a aceitarem certas opções de consumo, muito menos alienadas por aquilo que assistem. Por outro lado, quem produz um filme precisa despertar o interesse e, às vezes, canibalizar as demais opções para se destacar.
Esse parece ser o caso de Sexta-Feira 13, que além de representar muito bem o tipo de filme que estava sob demanda na virada da década de 1970 para 1980, ainda conseguiu permanecer no imaginário do público graças à agilidade do próprio Cunnigham. Mal as filmagens do longa original terminaram e uma sequência foi colocada em andamento. Estreou praticamente um exemplar da franquia por ano até o fim da década.
A receptividade do público não se deu apenas porque aquela era uma esperada para o período, mas porque a própria equipe de produção criou uma expectativa de audiência que não existia. Se a criação de Cunnigham não tivesse ocupado aquele espaço de ícone cultural é bem possível que outro título semelhante tivesse assumido o posto do filme sobre jovens assassinados em um acampamento de verão.