Em 2010, eu estava na casa de uma amiga quando a irmã dela chegou animada do cinema. “Vi um filme de terror que você iria adorar”, disse. “É o novo A Hora do Pesadelo”. Sorri de forma desconcertante, pois tinha lido que era uma bomba. “É muito melhor do que aqueles antigos, que eram toscos e engraçados”, completou. Em seguida, ela revelou que nunca tinha visto nenhum dos sete filmes produzidos pela New Line entre 1984 e 1994.
Criado por Wes Craven, Freddy Krueger se tornou um ícone cultural importante na minha vida. Ele era, afinal, o protagonista da primeira franquia de horror a que fiquei afeiçoado e foi uma das portas para que eu entrasse de cabeça no gênero. Separar Robert Englund do personagem, como propunha a nova versão, parecia um erro.
E foi.
Mas os primeiros rumores da produção eram animadores. Jack Earle Haley, conhecido por dar vida ao Rorschach na adaptação de Watchmen (2009), seria o vilão. O elenco de vítimas tinha atores talentosos como Rooney Mara (O Homem que Não Amava as Mulheres), Katie Cassidy (Arrow) e Thomas Dekker (Terminator: The Sarah Connor Chronicles). Para completar, o lançamento seria feito pela Platinum Dunes, companhia de Michael Bay, responsável pelas refilmagens ligeiramente acima da média de O Massacre da Serra Elétrica (2003) e Sexta-Feira 13 (2009).
Os problemas começaram com a escalação do diretor Samuel Bayer, veteranos de videoclipes, mas sem experiência no cinema. Sem inspiração, o cineasta decidiu ficar no feijão com arroz e basicamente limou a criatividade que sempre foi uma das marcas da série A Hora do Pesadelo. Planos idênticos aos do original de 1984, mortes sem inspiração e uma paleta de cores opacas transformaram o filme em uma experiência genérica, esquecível.
Freddy Krueger não tem uma maquiagem de um monstro, mas de um homem ferido na refilmagem de 2010. Isso dá pena, não medo.
Para compor Freddy Krueger, a maquiagem exagerada foi deixada de lado. “Queremos que ele pareça uma vítima de queimaduras”, declarou o produtor Brad Fuller antes da estreia. O resultado foi um rosto com feridas virtuais. Não estamos diante de um monstro ameaçador, mas de um doente. Não temos medo, mas pena.
O excesso de realismo também afetou o roteiro, que brincou de maneira infeliz com a percepção do público. A personagem de Mara chega a desconfiar que Krueger era alguém que morreu injustamente, vítima de uma vingança de um crime que não cometeu. Bayer, inclusive, mostra o rosto de Haley sem maquiagem, como um simpático zelador de escola primária. Aparentemente, o truque só funcionou com a irmã da minha amiga.
O título não foi um fiasco comercial. A Hora do Pesadelo (2010) fez uma renda de US$ 3 milhões somente nos Estados Unidos. A quantia é alta para um orçamento estimado em US$ 27 milhões. Havia planos para uma sequência que, quase seis anos depois, ainda não saiu do papel. E nem vai.
No fim do ano passado, a New Line anunciou planos para uma nova repaginação para a série, que, como os fãs da franquia, deve ignorar completamente o longa-metragem de Bayer. Englund até especula que o projeto possa se apropriar da trama de A Hora do Pesadelo 3: Os Guerreiros dos Sonhos (1987). Se me perguntassem, eu ainda diria que a ideia é ruim.