Reino de Fogo (2002), do diretor Rob Bowman, é uma salada de gêneros. Mistura um cenário pós-apocalíptico aos moldes da franquia Mad Max com drama de sobrevivência e dragões gigantes assassinos. Tudo isso pautado por um ritmo de fita de ação, que praticamente não dá muito tempo para o espectador respirar entre uma sequência e outra.
A trama começa em 2008, quando um garotinho descobre um monstro recém-despertado em uma caverna no subsolo de Londres. O bicho persegue o menino para fora do buraco e destrói a cidade inteira. Corta para 2020, quando a criança está crescida e agora é interpretada por Christian Bale, um sobrevivente do fim do mundo que cuida de uma fortaleza cheia de órfãos.
Matthew McConaughey, provavelmente em seu papel mais caricato, vive Denton Van Zan, um americano caçador de dragões. O personagem, que sofre de excesso de ego, lidera uma expedição militar destinada a caçar a única fêmea da espécie do monstro gigante e, assim, exterminar de vez a ameaça à humanidade.
Em uma matéria para a revista SET em setembro de 2002, o jornalista Rodrigo Salem defendeu que Reino de Fogo era uma das estreias mais divertidas daquele ano nos cinemas americanos. Especialmente depois de um verão morno para os blockbusters, que sofriam para superar o sucesso de Homem-Aranha (2002), de Sam Raimi.
A ideia inicial do estúdio era ter Arnold Schwarzenegger como protagonista, o que tornaria o resultado final muito diferente.
Embora o longa-metragem com dragões fosse, de fato, muito divertido, o retorno financeiro foi baixo. Com o tempo, a obra de Bowman acabou esquecida – lembrada hoje apenas por fãs de filmes com monstros gigantes.
As raízes do projeto são oriundas dos roteiristas Gregg Chabot e Kevin Peterka, que venderam a história para a Spyglass em 1996. A ideia inicial do estúdio era ter Arnold Schwarzenegger como protagonista, o que tornaria o resultado final muito diferente.
À época do lançamento, os títulos mais famosos do cinema com dragões eram fantasias como Simbad e a Princesa (1959), O Dragão e o Feiticeiro (1982) e Coração de Dragão (1996). Nenhum deles colocava a criatura mítica como um animal do mundo contemporâneo. Em muitos aspectos, Reino de Fogo se parece mais com Godzilla do que qualquer um desses filmes sobre mundos fantásticos e maravilhosos.
Da franquia Mad Max, o longa-metragem de Bowman ainda empresta o uso pesado de cenas com veículos modificados, aqui para a sobrevivência em um mundo com monstros gigantes. Há pelo menos dois momentos em que os carros e motos são usados em planos que parecem saídos das obras de George Miller. São de tirar o fôlego.
Como fita kaiju, Reino de Fogo tem destruição de cidade, personagens indefesos e militares ineficientes. As criaturas são feitas por computação gráfica e ainda funcionam na tela, apesar do tempo. É bastante completo como exemplo do gênero, mas sem muito espaço para a reflexão. A diversão é bruta e pautada pela ação. Um Gerard Butler novinho completa o elenco no papel do melhor amigo do protagonista vivido por Bale.