Em uma das entrevistas para o podcast Eli’s Roth History of Horror: Uncut, a roteirista Diablo Cody lançou uma provocação muito intrigante sobre o atual estado do público em relação ao cinema de gênero comercial. Espantada com a base de fãs de Star Wars, que se organizou para boicotar a estreia de Han Solo e mandar uma mensagem à Disney depois de Os Últimos Jedis, a escritora questionou se as audiências não estão com informações demais sobre as grande produções. Segundo ela, isso teria um impacto negativo direto na recepção de uma obra.
Uma das responsáveis pelo pouco valorizado Garota Infernal (2009), Cody traz um ponto interessante para debater o horror cinematográfico. Se, por um lado, é praticamente um consenso que informações demais sobre um enredo atrapalham na experiência de consumo de um filme, por outro, a divulgação de notícias de bastidores praticamente alimenta o interesse do público por uma obra.
Não é por acaso que somos bombardeados com associações de nomes de produtores ou diretores de outras obras de sucesso logo no trailer ou no cartaz de um novo lançamento – “Dos mesmos responsáveis por Invocação do Mal”. Quem consome notícias sobre o tema sabe que existe uma verdadeira indústria de informações de bastidores nos Estados Unidos, que inclui um nicho forte de gênero.
Em grande medida, as histórias que nos contam sempre lidam com o possível, mesmo em casos fantásticos. Encontramos ali, no que é forjado para nossos olhos, uma razão para nos conectarmos com nossas próprias emoções.
Geralmente, o público encara a sessão de um filme bem contextualizado. Quanto maior a estreia, melhor informada está a audiência sobre a obra. Vejamos o exemplo do novo Brinquedo Assassino (2019), que chega aos cinemas brasileiros em agosto. Embora eu mesmo tenha pouca referência do diretor, Lars Klevberg, sei que o filme atualizará o boneco para uma lógica de inteligência artificial conectada e que a voz será feita por Mark Hamill, o Luke Skywalker. A princípio, não há ligação direta com o original – e o roteirista e patrono da franquia, Don Mancini, não apenas não está envolvido como criticou publicamente a nova produção.
Não parece que nenhuma dessas informações irá afetar diretamente minha experiência com o filme. Nem mesmo no nível da trama, que deve seguir mais ou menos a mesma ideia de uma criança atormentada pelo boneco malvado que ganha vida (apesar de todas as atualizações). Se houver tensão, cenas bem dirigidas e boas atuações é bem possível – mas não garantido – que eu ainda consiga curtir bastante a refilmagem. Isso, claro, vale para mim, pois a recepção é sempre um processo subjetivo.
O filósofo Noel Carroll levanta um ponto parecido com o de Diablo Cody ao questionar porque o público de horror sente medo de um enredo que sabe se tratar de uma ficção. Todo espectador de cinema de gênero tem hoje consciência de que o que se passa na tela não pode afetá-lo fisicamente. Nenhuma criatura ou assassino jamais deixará uma tela para ameaçar de verdade a vida de ninguém. Ainda assim, assistimos a algumas histórias horríficas profundamente perturbados, explica o autor, porque pensamos na possibilidade de que elas possam efetivamente acontecer.
É essa possibilidade que nos deixa com medo. Em grande medida, as histórias que nos contam sempre lidam com o possível, mesmo em casos fantásticos. Encontramos ali, no que é forjado para nossos olhos, uma razão para nos conectarmos com nossas próprias emoções. Apesar disso, ninguém deveria ser o nerd que decide boicotar um estúdio quando os personagens não agem da maneira que ele espera. O problema aí não está no excesso de informação, mas na maturidade emocional.