O cineasta Karel Zeman foi um dos principais responsáveis por popularizar o cinema fantástico na República Tcheca. Seus filmes eram experimentais e usavam muito da criatividade para dar vida a um mundo mágico e impossível. Não por acaso, o diretor ficou conhecido como o “Méliès Tcheco”, em referência ao mágico francês que foi um dos pioneiros a usar a sétima arte como artifício.
Depois de fazer sucesso internacional com curtas de animação, Zeman decidiu fazer a transição para o live action com uma obra encantadora chamada Viagem à Pré-História (1955). A narrativa acompanha um grupo de meninos que decide navegar com um barco por um rio onde encontraram um fóssil de Trilobita, um artrópode marinho da Era Paleozoica. A viagem os leva a uma jornada ao passado, por diferentes períodos pré-históricos.
Estruturado quase como um documentário educativo, o longa-metragem mostra os meninos visitando vales de mamutes e outros mamíferos extintos, bem como adentrando cavernas habitadas por ancestrais do homo sapiens. A partir da metade do filme, os personagens também encontram dinossauros até chegar ao início da vida terrestre.
Viagem à Pré-História se destaca pela direção de arte. A maior parte das vezes que dinossauros aparecem na tela são reproduções dos quadros do pintor tcheco Zdenek Burian.
Nada na produção se parece com uma narrativa de Hollywood. Zeman está mais interessado no passeio e nas explicações sobre o que se sabe sobre cada animal pré-histórico do que em colocar os protagonistas sobre risco constante. Não por acaso, o final pode parece anticlimático, com os garotos à beira da praia felizes por descobrir um artrópode menor do que a palma da mão de uma criança.
Viagem à Pré-História se destaca pela direção de arte. A maior parte das vezes que dinossauros aparecem na tela são reproduções dos quadros do pintor tcheco Zdenek Burian. Cada frame poderia, inclusive, receber uma moldura e ser pendurado na parede. Não por acaso, os objetos de cena mais importantes do enredo são binóculos e diários que reproduzem o que é visto pelos meninos.
Os animais são produzidos de maneira bastante criativa. Mesclam stop motion, animação e marionetes. O longa de Zeman recebeu um corte nos Estados Unidos, muito diferente do original, que incluíram cenas novas e mudaram a ordem dos acontecimentos. Possivelmente foi essa versão que chegou ao Brasil por volta de 1957. À época, o crítico de cinema Ely Azeredo, no jornal Tribuna da Imprensa no Rio de Janeiro, exaltou o caráter educativo da obra e seus feitos cinematográficos, que misturavam técnicas de animação e atores reais.
O alcance da produção fora da República Tcheca talvez tenha sido muito maior do que qualquer outro título realizado antes ou depois de Viagem à Pré-História. Steven Spielberg certa vez citou o filme como uma das influências para O Parque dos Dinossauros (1993).
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