Um crítico norte-americano descreveu o livro Zoo, de James Patterson e Michael Ledwidge, como uma obra irregular e cheia de falhas. “Mas a virada de página é garantida”, dizia o texto, em referência à capacidade dos autores em criar tensão ao fim de cada capítulo. Publicada em 2012, a narrativa contava a história de um desastre natural em que animais do mundo todo passam a atacar humanos de forma violenta e coordenada.
No ano passado, a premissa foi adaptada para televisão, com muitas liberdades criativas. No lugar do desastre natural, há uma conspiração aos moldes de Arquivo X. Em vez de ter apenas um personagem paranoico, a trama apresenta uma equipe de pesquisadores. Cada episódio mostra o grupo investigando um ataque de um bicho diferente.
Embora altere substancialmente o material original, e apresente alguns problemas ao longo de sua primeira temporada, o programa prende fácil a atenção do espectador. Especialmente se ele for um fã nato de enredos de horror de natureza, subgênero especializado em mostrar a vingança do mundo natural aos maus tratos cometidos pelo homem e pela modernidade.
Uma das referências mais óbvias de Zoo é o clássico Os Pássaros, de Alfred Hitchcock, pois em vários momentos há um grupo de animais à espreita de um grupo de pessoas, pronto para atacar.
Não por acaso, uma das referências mais óbvias de Zoo é o clássico Os Pássaros (1963), de Alfred Hitchcock. Logo no piloto, dezenas de gatos que desapareceram de um dos bairros de Los Angeles são encontrados em cima de árvores em uma escola infantil, provavelmente preparando um ataque. Em um capítulo mais próximo do fim dessa temporada de estreia, uma revoada de aves fere mulheres e crianças em um parque de uma cidade do interior dos Estados Unidos.
Não é difícil encontrar outros filmes de horror de natureza levemente homenageados pela série, como A Sombra e a Escuridão (1996), Grizzly, A Força Assassina (1976), Calafrio (1971) e Morcegos (1999). E, embora muito seja deixado para a imaginação do espectador, as cenas com os animais – geralmente criados por computação gráfica, infelizmente – são bastante violentas. Os personagens são devorados por ratos, leões e cachorros.
O time de protagonistas é formado por um zoólogo (James Wolk), uma jornalista (Kristen Connolly), um veterinário (Peter Burke), uma agente da inteligência francesa (Nora Arnezeder) e um guia de safári (Nonso Anozie). Como no livro, inicialmente, a equipe é desacreditada pelas autoridades, que ridicularizam a ideia de que os animais se tornaram assassinos.
Na obra de Patterson e Ledwidge, há um salto temporal de cinco anos, em que o conflito entre animais e humanos se acentua e o cenário fica mais apocalíptico. Aparentemente, os roteiristas da série preferiram deixar essa ambientação para a segunda temporada, já confirmada para estrear na metade deste ano na TV norte-americana.
Apesar das qualidades enquanto narrativa típica de filme B, Zoo tem lá seus problemas. O primeiro deles é o excesso de soluções fáceis para o roteiro, que abusa das reviravoltas e dos tipos internacionais mal construídos. Em certo momento da série, a trama leva o grupo de pesquisadores ao Rio de Janeiro, que sofre com uma infestação de morcegos. Todo mundo fala português de Portugal, a polícia carioca tem um esquema de operações cinematográfico e o Morro do Alemão parece os fundos de um estúdio barato de Hollywood. Nada que incomode muito alguém de gosto duvidoso, como eu.