Divertido e despretensioso, Enola Holmes foi exaltado como um filme inspirador e feminista. O sucesso da nova heroína – irmã do detetive mais famoso da literatura, Sherlock Holmes – não é só pela mensagem e pelo pano de fundo da liberação do voto feminino na Inglaterra em 1884. O filme é bem montado, com uma trilha sonora intensa, fotografia e captação de imagens impecáveis. Está disponível na Netflix.
Como todo bom filme de ação, tem luta, explosão e cortes drásticos nas cenas, o que prende a atenção das crianças. Foi o caso aqui com as minhas pequenas de 3 e 5 anos: compreenderam parte da história, se assustaram com os vilões e as perseguições, mas, no fim das contas, entenderam que uma mulher pode ser o que ela quiser.
Embora criada para ser uma mulher forte que, diante das adversidades, não pensa duas vezes e se põe a lutar, Enola deixa óbvio um traço pernicioso de muitas mulheres: cuidar e salvar homens.
É isso que Enola faz e defende na trama: liberdade e possibilidade de escolha para quem quer que seja, mas principalmente para as mulheres que (em 1884 e hoje em dia) ainda são privadas destes direitos básicos.
A protagonista se veste de homem em algumas ocasiões para passar despercebida e essa estratégia foi gritante para as crianças. Para elas, se fantasiar ou imaginar que são outras pessoas é para diversão e brincadeira. Precisaram se confrontar com a história da Enola, que usou o artifício para sobreviver.
É interessante também o movimento de ver a mesma história, contada e recontada milhares de vezes, diante de um novo olhar. Enquanto em tantas outras produções, o Sherlock Holmes parece único e impávido, na história contada a partir do ponto de vista da Enola, ele se apaga e é só mais um isentão.
Embora criada para ser uma mulher forte que, diante das adversidades, não pensa duas vezes e se põe a lutar, Enola deixa óbvio um traço pernicioso de muitas mulheres: cuidar e salvar homens. Ainda que essa ação se justifique no fim das contas, é a repetição de um padrão machista.
Vale apresentar a trama para as crianças, afinal, uma personagem feminina forte e independente a mais não faz mal para ninguém.