Foi uma daquelas coincidências estranhas da vida. Estava relendo uma matéria que tinha visto meio por cima há alguns meses, sobre o preocupante “déficit” de natureza que as crianças sofrem atualmente, o que, de acordo com pesquisadores, causa problemas físicos e psicológicos. Confinadas em apartamentos, em cidades grandes demais, com tempo escasso, calha que as telas acabam sendo a companhia mais corriqueira. Mesmo quando há oportunidade de viver o mundo lá fora, os pais penam para tirar os pequenos de casa, afinal, eles não estão acostumados com o “ar livre”.
Enquanto lia, dei uma olhada de relance para a estante de livros e parece que brilhou para mim o único exemplar do Manoel de Barros que tenho, o Menino do Mato (Alfaguara, 2010). “Coincidência, hein? Justo o poeta que fala tanto da infância dele em meio à natureza e tal… Mas poesia pra criança?”, pensei.
Sei lá, confesso que não entendo quase nada de poesia, mas fui puxando pela memória que eu gostava de ler poesia quando criança e até arriscava uns versos, que saiam sempre horrorosos… “Mas será que tem algum autor específico, um poeta para crianças?”. Digitei lá no buscador famoso, parceiro de incontáveis pesquisas: “criança poesia manoel de barros”.
Como um presente do destino para colorir os últimos dias, tão acinzentados, eis que me deparo com o projeto Crianceiras, um alento de leveza. O músico Márcio de Camillo musicou – com a autorização do poeta, ainda em vida – dez poemas de Manoel de Barros. Lançou CD em 2011 e criou um espetáculo teatral infantil, que desde 2013 percorre o país e já foi encenado 130 vezes.
A estética é diferente do que comumente encontramos nos produtos infantis, que costumam ter cores fortes e traços definidos demais. Em geral, tudo parece saído do mundo dos Telletubies. É bom pode oferecer um novo olhar.
Pelo celular
Mas, na minha opinião, a grande sacada do projeto foi a elaboração de um aplicativo para o celular com os dez clipes dos poemas musicados, que foi lançado em outubro desse ano. Junto das canções, as ilustrações de Martha Barros, filha do poeta, povoam os vídeos com muita graciosidade.
O aplicativo para o celular ainda tem uma seção para desenhar com base nos “personagens” retratados nos clipes, outra para editar fotos e a íntegra das poesias que serviram como base para as músicas.
O resultado dessa feliz descoberta: mãe e filha aproveitam juntas os belos vídeos, as músicas calmas e as iluminuras cativantes que colorem o projeto. A estética é diferente do que comumente encontramos nos produtos infantis, que costumam ter cores fortes e traços definidos demais. Em geral, tudo parece saído do mundo dos Telletubies. É bom poder oferecer um novo olhar.
Aqui, vale uma ressalva: sim, é inegável que os filhos vão se interessar pelo celular, afinal, eles nos veem com o aparelho nas mãos e nada mais natural do que a curiosidade de querer ver e pegar os mesmos objetos que os pais. Pois agora, quando a filhota quer pegar o celular, aproveito o tempo para curtir a poesia musicada de Manoel de Barros com ela.
Pude lembrar de quanto poesia nos faz bem. Ambas ganhamos.
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