Se em capítulos anteriores da “novela da maternidade” eu evitei as telas, em geral, e a televisão, em particular, como forma de passatempo para minha filhota, e não adquiri o “tradicional kit de DVDs infantis mais vendidos mesmo antes do bebê nascer”, agora entendo que essas ferramentas são inevitáveis, mas devem ser usadas a nosso favor. Não me arrependo de ter sido mais radical com essa questão, até porque agora vejo que a tevê não é essencial para a felicidade geral da nação aqui em casa – nada em demasia é bom, oras.
Acredito que dá para fazer do tempo de ver tevê mais um momento de interação com a criança. Aproveito para descansar (é preciso) enquanto a criança se entretém por um tempinho e faço questão de escolher os títulos (em tempos de internet e serviço de streaming não precisamos ficar à mercê das escolhas dos canais comerciais nem conviver com as horas de propagandas).
Ultimamente, temos visto Masha e o Urso. Há vários capítulos disponíveis no YouTube (alguns não estão dublados, o que não é necessariamente um problema, porque não é necessário para entender o contexto), duas temporadas estão na Netflix, a TV Cultura passa dois episódios por dia, às 8h25 e às 15h55; e passa também no Boomerang e Cartoon Network. O desenho é russo e a história é baseada em um conto tradicional do folclore de lá. Uma menininha vive na floresta e vivencia muitas aventuras e desventuras ao lado de um urso de circo aposentado.
Acredito que a vivacidade da pequena personagem é o que devemos esperar de uma criança feliz, sadia, saudável. Quebrar coisas, deixar cair, cair, quebrar, rir muito, bagunçar, errar, reconhecer o erro às vezes, tentar melhorar.
O desenho é bonito, bem feito, bem colorido, tem uma trilha sonora cativante, foi inclusive o vencedor do Kidscreen Awards 2015 na categoria de Melhor Animação. Os diálogos são curtos e simples, a história toda fica subentendida mesmo se você não souber exatamente o que eles dizem. Além da menina, a Masha – que aparenta ter uns quatro anos – e o urso, melhor amigo dela, a atração apresenta outros animais, todos com o comportamento humano.
Até aí… tudo bem. Típico desenho infantil. Acontece que nesse enredo, a personagem principal – Masha – tem um comportamento literalmente endiabrado. A criatura é uma pestinha, vive infernizando a vida do urso e dos outros animais; tem uma risada levemente diabólica e apronta MUITO. Mas muito mesmo. Muito! Ela faz de tudo: o que pode, o que não pode, testa a paciência de todos.
Agrada-me a relação com a natureza e a naturalidade da pequena Masha em tratar animais e plantas. Não considero que ela seja um exemplo ruim, no final de cada episódio sempre há o perdão ou a redenção e nem sempre ela se dá bem (assim como na vida de verdade da gente e das crianças…). Acredito que a vivacidade da pequena personagem é o que devemos esperar de uma criança feliz, sadia, saudável. Quebrar coisas, deixar cair, cair, quebrar, rir muito, bagunçar, errar, reconhecer o erro às vezes, tentar melhorar. É isso que a Masha faz o tempo todo e é isso que as crianças fazem – ou deveriam fazer.
Para quem tem filhos, ver a Masha é um alento: uma criança sendo bem criança, sem padrões inalcançáveis ou expectativas irreais: aquelas sempre impostas pelos adultos não tão adultos assim. O urso, que é o seu cuidador, atua como todos os cuidadores normais: perde a paciência às vezes, cede às vezes, mas no fundo se delicia com as peripécias da criatura que está em pleno desenvolvimento físico e mental. A nós, adultos, resta aprender a se divertir com as travessuras da Masha e as dos nossos pequenos humaninhos.
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