Eu gostava do ritual da hora de dormir: banho, penteia o cabelo, escova os dentes. Deitar na cama com as crianças e cantar uma música ou contar uma história ou… ambos. Mas de março para cá, com tantos pesadelos da vida real assombrando o sono e os sonhos dos adultos, essa hora da história ficou chata, eu já estava farta de falar.
Comecei a colocar músicas, mas a coisa toda foi tomando a proporção de uma festa e, num momento em que não aguentava mais ser a DJ do sono, digitei lá “meditação infantil para dormir” e caímos num lista de vídeos com sonzinho calmo e, em geral, uma narração. Eram meditações guiadas para crianças.
Ouvimos um dia e as meninas logo dormiram. Pediram no dia seguinte de novo e escolhemos outra. Fui ouvindo aquela voz narrando sobre como todas as crianças tinham um lugar seguro dentro de si que parecia como uma casa feitas de doces, um refúgio para onde sempre poderiam ir… Claro que acredito na boa-vontade da pessoa que produziu esse conteúdo, mas a minha menina de 5 anos me disse: “Ué, mamãe, mas não era na casa feita de doces que morava a bruxa!?” E o questionamento me apavorou, pois ingenuamente cliquei em um link de um autor desconhecido no Youtube e sei lá… Vai que depois daquela musiquinha calma vinha uns gritos, uns berros, uns sustos…??
Depois da noia, achei melhor perguntar a uma amiga psicóloga sobre os possíveis efeitos de meditação para crianças. Ela me indicou o maravilhoso Quietinho Feito um Sapo (Selo Bicicleta Amarela da editora Rocco, 2016), que devorei em menos de um dia.
A autoria Eline Snel apresenta a técnica de mindfullness ou “atenção plena”. Ela indica viver o momento e prestar atenção a ele, o famoso “sentir e aceitar”. Eu sempre preferi problematizar, mas o livro traz boas práticas que ajudam crianças no início da jornada de aprender a lidar com seus próprios sentimentos.
Eline fala de forma muito leve e fácil de entender sobre os momentos de confusão de sentimentos vividos pelas crianças e como abordar as “crises” da melhor forma possível. O livro lista 11 exercícios práticos de meditação e relaxamento; a maioria deles para crianças entre 7 e 12 anos. Mas alguns, para crianças de todas as idades, já foram experimentados pelas minhas meninas.
A obra fala de meditação de uma maneira muito descomplicada. E mais do que meditar, a mensagem que fica é sobre a importância de respirar, reagir de forma consciente e conseguir prestar atenção plenamente em alguma atividade.
A obra fala de meditação de uma maneira muito descomplicada. E mais do que meditar, a mensagem que fica é sobre a importância de respirar, reagir de forma consciente e conseguir prestar atenção plenamente em alguma atividade.
O exercício que leva o nome do livro, Quietinho Feito um Sapo, é o que adaptamos aqui, para vários momentos. A história do sapo que, na beira do lago, para tudo e escuta o silêncio, tem sido o cano de escape de muitos momentos da vivência intensa a que estamos impostos.
Aprender a respirar é a mensagem essencial e a autora, muitas vezes, indica que as crianças deixem a cabeça, onde sempre há uma “esteira rolante de pensamentos”, para ir para a barriga, onde não há no que pensar, não há brigas, nem discussões, nem problemas.
O livro ainda tem um material interativo e a editora disponibilizou áudios dos exercícios, narrados por Joana Cabral, atriz e professora de teatro. Dá para ler o primeiro capítulo do livro aqui.
Ensinar sobre sentimentos às crianças é um pequeno passo para gerar adultos que, minimamente, se entendam melhor. Semanas depois de fazer o exercício do sapo todos os dias para dormir, a menina de três anos, já na cama, na hora de dormir, diz: “eu tô muito agitada e não posso dormir, porque a minha barriga tá com muita raiva e tá muito nervosa e eu não posso dormir…… ah! já sei! Eu estou com fome!!!”. Saber reconhecer os próprios sentimentos é libertador!