O que há em comum nas trajetórias artísticas de João Acaiabe e Maria Clara Machado? Além da paixão pelas artes cênicas, com certeza a identificação de seus trabalhos com o público infantojuvenil. Como a preservação da memória é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade e das novas gerações, nada mais justo e necessário que registrar a importância desses dois talentos para a formação de nossas crianças e adolescentes.
O ator João Acaiabe morreu, aos 76 anos, no dia 1º de abril, por conta de complicações em decorrência da COVID-19. Maria Clara Machado completaria um século no dia 3 deste mês. Ambos deixaram – como marca registrada – obras que encantaram meninos e meninas.
Maria Clara Machado é um ícone do teatro infantil brasileiro. A dramaturga, escritora e atriz, que morreu há 20 anos (no dia 30 de abril de 2001), foi idealizadora de O Tablado, importante escola de teatro do Rio de Janeiro, que lançou nomes como Cláudia Abreu, Louise Cardoso, Drica Moraes, Malu Mader, Eduardo Galvão e Mateus Solano. É autora de obras que ganharam o mundo, entre elas Pluft, o Fantasminha e O Cavalinho Azul.
Como a preservação da memória é fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade e das novas gerações, nada mais justo e necessário que registrar a importância desses dois talentos para a formação de nossas crianças e adolescentes.
Acaiabe tem uma trajetória de representatividade importante nos palcos. Também participou de clássicos da televisão brasileira como Bambalalão, um ícone da programação da TV Cultura exibido entre 1977 e 1990. Nesse grande circo, João revelou enorme afinidade com o público infantil.
Foi, no entanto, em 2001, que o ator deu vida ao Tio Barnabé, do Sítio do Picapau Amarelo (Globo), no retorno da obra de Monteiro Lobato à telinha. Ele permaneceu na atração até 2006. Mantendo essa boa química com a garotada, o artista deu vida ao Chico (ou melhor, ao “chef Chico”) na segunda versão de Chiquititas no SBT, exibida originalmente entre 2013 e 2015. Atualmente, a novela é reprisada pela emissora e também está disponível na Netflix.
Uma triste coincidência: Gésio Amadeu, que também morreu vítima da COVID-19 em agosto de 2020, aos 73 anos, interpretou Chico na primeira versão de Chiquititas (1997 – 2001). Em 2007, substituiu Acaiabe no elenco do Sítio do Picapau Amarelo como Tio Barnabé.
Referências
Por falar em televisão, Maria Clara Machado também deixou sua contribuição. Foi uma das autoras de A Raiz Milagrosa, do Sítio do Picapau Amarelo, em 1978, e também para a Globo escreveu a novela infantil A Patota, de 1972. A autora também flertou com o cinema (O Cavalinho Azul, por exemplo, ganhou as telas em 1984).
Em um de seus últimos trabalhos, Acaiabe mostrou seu talento como contador de histórias em Estação N – A Feira de Ciências da Netflix. A atração está disponível no catálogo da plataforma de streaming.
Por serem inspiração, João Acaiabe e Maria Clara Machado deixaram marcas inesquecíveis em inúmeros profissionais de destaque na grande mídia. Em sua conta no Instagram, Giovanna Grigio, intérprete de Mili, a protagonista de Chiquititas, lembrou do primeiro contato com o ator e companheiro de cena. “Eu não sei se você lembra, João, mas eu lembro da sua generosidade no dia em que a gente se conheceu. Era meu primeiro teste pra Chiquititas, eu tava muito nervosa e você me chamou pra ensaiar. A gente passou texto várias vezes juntos e foi amor à primeira cena. Ter você como professor e amigo, escutar suas histórias, aprender com você… Com certeza foram dos maiores privilégios da minha vida! Eu já te amava antes e vou te amar pra sempre. Obrigada por tudo!”, comentou.
Para o Globo Teatro, Drica Moraes recordou da importância de O Tablado e de Maria Clara Machado para sua trajetória profissional. “As minhas histórias no Tablado são inúmeras porque eu comecei lá com 12 anos. A base do que eu sei vem de lá. Um dia, fazendo uma peça com a Maria Clara Machado chamada Nossa Cidade, falei que meu nome artístico ia ser Drica Moraes. Ela ficou muito indignada e falou que ‘Drica’ não era nome, era caco. Que o meu nome era Adriana Moraes e que era um nome lindo. Então nós discutimos, artisticamente, e depois de um tempo ela disse que ‘Drica Moraes’ era simpático, alegre e a minha cara”, relembrou a artista. Aos dois grandes artistas, que permanecem vivos nos corações de espectadores de todas as idades, nossos aplausos e a eterna gratidão por tanta inspiração…