Desde o dia 15 de março, o Museu de Arte Contemporânea do Paraná (MAC-PR) abriga a exposição Movimento – mostra do acervo, com curadoria de Ronald Simon.
A exposição, que tem entrada franca e ainda sem datas para acabar, deve ser a última do MAC-PR antes que o prédio feche para uma grande reforma, também de tempo indeterminado.
A Escotilha foi conferir a exposição e trouxe alguns detalhes para quem ainda não teve a chance de conferir.
Heranças do movimento nas artes
Diversas formas de retratar o movimento compõem o foco da curadoria da exposição. Vídeo-arte, pinturas, desenhos, esculturas e instalações, todas pertencentes ao acervo do MAC-PR, preenchem as salas expositivas.
No texto da exposição, o curador faz referência à trajetória das noções de movimento da história da arte. Segundo ele, o deslocamento já era presente nas obras pré-históricas, que representavam cenas do cotidiano de caçadores. Mas é somente a partir do século XIX, com a invenção da fotografia e das aventuras da arte moderna, que o movimento passa a ser um elemento compositivo, unificador e até, por vezes, meio para as obras.
O célebre fotógrafo inglês Eadweard Muybridge (1830-194), por exemplo, marcou sua época com seus experimentos utilizando várias câmeras para capturar o movimento de animais. Um pouco adiante no tempo, o Futurismo italiano, iniciado em 1909, procurou formas de retratar o movimento figurativamente, produzindo um efeito ilusório em pinturas.
Com essas iniciativas, o movimento passa a ser explorado de várias formas. Desde as performances dadaístas, o neoplasticismo de Mondrian, as action paintings de Pollock, até as vídeo-artes e performances atuais.
Impressões da mostra do acervo do MAC-PR
As obras de exposição do MAC-PR, então, exploram a herança que a referência ao movimento possui na história da arte.
A escultura de Laura Miranda, que confronta o visitante logo na entrada do museu, com um único elemento alude às noções de continuidade e infinito, parecendo a própria obra realizar um “movimento estático”.
São numerosas as obras figurativas, ilusões às manifestações humanas que obrigam o movimento do corpo. Em “Y partieran hacia el Ande”, de Líber Fridman, figuras parecem sobrevoar em meio à uma paisagem etérea, num ambiente de sonho.
Já na pintura “O segredo de Pisaki”, de Pablo Valeriano, a organização dos elementos da composição, bastante expressionista, leva o movimento tanto para a relação entre as formas coloridas quanto para os olhos, que migram para diferentes pontos do quadro constantemente.
Trabalhos mais abstratos, como o “Desenho de Burle Marx”, aplicam as noções iniciadas na arte moderna por Mondrian, da continuidade da obra através da relação entre as linhas e o suporte do trabalho. A escultura “Aparato para Domesticar Curvas”, de Eduardo Freitas, é a ilusão a um momento fugidio e de fricção, onde a referência ao movimento está na força de tentar pará-lo.
Além de trabalhos como estes, claro, vídeo-artes também compõem a exposição. Bruno Borne explora a criação de um espaço alternativo com seu trabalho “Eclipse Especular”, enquanto Patrícia Osses faz uma referência clara à tradicional dança latino-americana com a vídeo-arte “El tango del pasillo”.
https://www.youtube.com/watch?v=-pTWTQrIsJA
A exposição, que tem entrada franca e ainda sem datas para acabar, deve ser a última do MAC-PR antes que o prédio feche para uma grande reforma, também de tempo indeterminado.
É preciso reconhecer que Movimento – mostra do acervo possui um recorte curatorial genérico, referenciando um conceito bastante abrangente, que permite uma grande variedade de interpretações por parte do público.
Sendo assim, arrisco dizer que o ponto mais relevante da exposição é justamente mostrar a riqueza do acervo do MAC-PR, que detém obras de grandes artistas nacionais e internacionais, como Burle Marx, Carlos Zílio e Claudio Alvarez.
A reforma do museu
Desde a década de 1970, o icônico edifício vermelho da Des. Westphalen abriga o Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Além de exposições, o espaço também possui um importante centro de pesquisa, que reúne material valioso sobre a história da arte do Paraná.
No ano passado, uma reforma do espaço foi aprovada. Está prevista uma mudança na fachada, nos espaços expositivos e uma construção de um novo lugar para o centro de pesquisa.
A reforma, que pode começar a qualquer momento, não possui estimativas de duração. O medo de muitas pessoas é que seja repetido o que aconteceu com a Casa Andrade Muricy, importante espaço cultural da cidade que fechou as portas em 2014 para receber uma reforma e ainda não voltou a ter seu velho uso.
A expectativa, claro, é que o MAC-PR não fique muito tempo com as portas fechadas. Afinal, artistas e pessoas ligadas ao museu já impediram seu fechamento há anos. Dada a importância do espaço para a cidade, certamente não será fácil ele desaparecer.
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SERVIÇO | Movimento – mostra do acervo
Onde: Museu de Arte Contemporânea do Paraná. Rua Des. Westphalen, 16, Centro – Curitiba;
Quanto: Gratuito.
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