Acho que nem o muro de Berlin, a muralha da China ou o meio de rede do time da seleção do Bernardinho são tão cruéis com um escritor do que o bloqueio criativo. Quem já teve a experiência de andar com o freio de mão puxado certamente entenderá a analogia com a dificuldade em escrever.
Normalmente evito escrever nessas situações. Sempre questiono a qualidade do material, penso que vão perceber que foi escrito “nas coxas” e que vão me chamar de mequetrefe. Mas aí eu lembro que Paulo Coelho é um dos escritores mais lidos no mundo e fico tranquilo. Porque, né, quem lê Paulo Coelho não vai ter a cara de pau de achar qualquer texto meia boca.
Acontece que a situação fica pior quando o seu ganha pão é a escrita. Há os que fumem e bebem um café; os que se percam em páginas no Facebook, crentes que o ócio lhes retirará o cinto de castidade mental; conheço alguns que apelam à maconha ou demais psicotrópicos. Em suma, contra bloqueio criativo vale até “pé de pato, mangalô três vezes”.
Em suma, contra bloqueio criativo vale até ‘pé de pato, mangalô três vezes’.
O assunto é tão sério que tem até página na Wikipedia explicando as possíveis origens. Segundo a “enciclopédia livre”, o bloqueio criativo é ligado à depressão e à ansiedade, e aponta que existem casos em que o bloqueio dura anos ou décadas. O romancista Henry Roth, por exemplo, ficou em bloqueio criativo por 60 anos. Não quero repetir esse feito. No caso dele, o bloqueio foi causado por uma combinação de depressão, problemas políticos e a relutância em enfrentar problemas passados. Seria o caso de procurar um exorcista?
O lobo frontal do meu cérebro poderia ajudar, afinal, eu só preciso escrever uma crônica. Mil e oitocentos caracteres, nada mais que isso, não estou pensando em escrever a trilogia O Senhor dos Anéis. E dos sintomas, o mais próximo é o problema político. Estaria eu enfrentando sequelas do Fla x Flu político?
Das coisas inevitáveis da vida, o bloqueio criativo na escrita é uma das piores. Sim, pior que a morte. E se tem dúvidas, assista a um jogo da seleção brasileira de futebol com David Luiz na zaga, Kaká no meio e Hulk no comando de ataque. A morte num caso desses cai bem, não? Mas não queria nada trágico, juro. Só preciso escrever uma crônica. Acho melhor desistir por hoje.