Eduardo é um cara. Não fosse óbvia a explicação, talvez você não prestasse atenção. Ele é como eu e você, mas com um smartphone e uns apps de diferença. Num esforço jornalístico nunca antes visto, esta voz que conduz sua leitura investigou a fundo cada detalhe da insólita vida de nosso querido Eduardo.
Romântico e sonhador, Eduardo passa parte dos dias (e da vida) conectado em seu smartphone de última geração. Com câmera integrada, tela touchscreen de 5 polegadas e gadgets que até Deus duvida.
Por ele, não passa uma refeição sem filtro, uma padaria sem check-in e nem uma mensagem naquele ZapZap√√. Avesso à privacidade, Eduardo compartilha seus diálogos em forma de página em uma rede social.
Apaixonado por seu corpo, mandou instalar um espelho que preenche todas as paredes de seu quarto, incluído o teto. Sua maior obsessão é encontrar alguém, que, assim como ele, saiba observar e captar a essência da vida em um filtro de Instagram.
Sua maior obsessão é encontrar alguém que, assim como ele, saiba observar e captar a essência da vida em um filtro de Instagram.
Estudado, quase um catedrático das línguas, segundo sua mãe, sonha em fazer uma viagem mundo afora. Objetivo? Paris, afinal, sempre sonhou em conhecer os Estados Unidos, terra dos Beatles.
Na última visita ao dentista, ouviu no elevador a respeito de um novo mal que assola a humanidade: o vício digital. Astuto, repetiu três vezes em voz alta que isto nunca lhe acometeria, antes de interromper o mantra para ver qual era a notificação no celular.
Entre tuítes e menções pouco honrosas sobre a sexualidade de seu arquiinimigo – o porteiro Andrade – Du Maromba (como é conhecido nas redondezas) não mede esforços em procurar o grande amor.
Em sua busca implacável, adiciona cada loira, morena, mulata e ruiva que cruza seu caminho algorítmico nas redes sociais. Pecando pela falta de pudor, acredita que seu maior defeito é ser perfeccionista e que todas as mulheres procuram um pouco do que ele tem a oferecer.
Para encerrar, pedi que me citasse seus três livros preferidos. Sem pestanejar, sacou seu smartphone e o dedou como quem vasculha a gaveta de cuecas atrás de um pé de meia.
Envergonhado por não conseguir pensar em três nomes, coloca a culpa no estresse e pergunta se pode citar apenas um. Ao final de meu aceno positivo, responde, sem hesitar: “o manual do meu celular”.
Ok, Eduardo, você tem razão: como não te querer… longe.