A literatura e a arquitetura guardam inúmeras semelhanças. Cada qual é responsável por perpetuar no imaginário de cada um de nós o retrato de uma sociedade, civilização ou época.
Como na literatura, existe arquitetura que nos eleva, nos engrandece, estimula a levantar os olhos do asfalto e enxergar um mundo inteiro à nossa frente; a arquitetura esconde a poesia em seu estado mais bruto, rude, sempre mesclada com alguma forma que insiste em inserir uma curva onde antes havia apenas uma reta.
A arquitetura é complexa e, como a literatura, pode ser dividida entre a que nos emociona a ponto de causar desconforto – aquele que só a grande literatura é capaz – e a que nos desaponta e nos causa desgosto.
Penso que a melhor característica que une literatura e arquitetura seja a capacidade ímpar que ambas têm de colocar ordem no caos da vida cotidiana.
Também guardam entre si a organicidade: enquanto reflexo dos corpos que compõem a cidade, são moldadas a cada nova geração, precisando resistir à própria ação do homem, incapaz de avançar sem destruir. A literatura e a arquitetura são guardiãs de tudo que fomos, somos e seremos.
Não à toa, existem departamentos em inúmeros países responsáveis em proteger os patrimônios históricos, aqueles que um dia foram grafite na ponta do lápis de quem escolheu escrever a literatura das cidades.
Um bom escritor cria seus personagens com profundidade, e estes serão trabalhados em uma trama a partir de um argumento, até chegarem a nós, responsáveis que somos para que a literatura exista. Somos a ponta final da obra do escritor, os últimos desta cadeira produtiva, mas os únicos capazes de dar vida às obras: não existe literatura se ela não é lida. E na arquitetura, em que ponto estamos nesta obra em constante execução?
Existe arquitetura sem uma sociedade que lhe signifique? Existe curva sem uma reta que lhe contraponha? Conseguiríamos nos organizar no espaço sem quem rascunhasse a escala da vida do homem?
Por último, penso que a melhor característica que une literatura e arquitetura seja a capacidade ímpar que ambas têm de colocar ordem no caos da vida cotidiana. Ninguém, por mais avesso que esteja ao contato com a arte, essa coisa tão próxima de nós, mas tão longe de nossa compreensão, sai intacto de um grande parágrafo, venha ele de um escritor ou de um arquiteto.