Santa Teresa de Jesus, como é conhecida a freira carmelita espanhola Teresa de Ávila, afirmou no distante século XVI que a imaginação é a louca da casa. Foi quando ouviu esta frase pela primeira vez que a escritora espanhola Rosa Monteiro descobriu que o que mais lhe interessava escrever era sobre a imaginação.
Autora do livro A Louca da Casa, lançado em 2003, Rosa Monteiro se debruça sobre o mais vasto e perigoso território da loucura, tendo como ponto de partida a literatura. Para a autora, a imaginação desenfreada do escritor assemelha-se mais a uma criança do que a um louco, por ser um modo de completar os espaços em branco, de caminhar sobre o desconhecido e de aceitar que domar uma palavra é acabar com ela, é convertê-la em um lugar comum.
A diferença dos que crescem para os que permanecem vivos em sua infância, nos quais a escritora inclui os romancistas, é que estes não amadurecem, metaforicamente falando. Eles carregam, vida afora, essa criança interior viva, dando-lhe permissão para que mandem neles, que mantêm sempre constante o acesso a essa imaginação, capaz de recriar o mundo sempre que preciso.
Tornar-me pai colocou-me diante do universo da imaginação e a obra de Monteiro, obviamente, parece ter surgido justamente para fazer com que refletisse a respeito do quanto minha criança interna ainda respira. A paternidade tem esse dom de nos confrontar com o “eu-passado”. A obra da escritora espanhola é inclassificável. Nela, se avistam vidas e palavras, inclusive as mais interiores e subterrâneas. Neste jogo interativo que ela cria – e se coloca a jogar com o leitor – , ela faz com que nos recordemos da época em que, ainda não atingidos pela solapada da ironia da vida adulta, éramos capazes de ver um cão andando pelas calçadas e ali imaginar um dragão.
A diferença dos que crescem para os que permanecem vivos em sua infância, nos quais a escritora inclui os romancistas, é que estes não amadurecem, metaforicamente falando. Eles carregam, vida afora, essa criança interior viva, dando-lhe permissão para que mandem neles, que mantêm sempre constante o acesso a essa imaginação, capaz de recriar o mundo sempre que preciso. Olho para meu filho, ciente de que ele desenvolve essa imaginação e sinto, admito, certa inveja dele.
Se os livros têm, cada um, sua própria vida, suas necessidades e seus caprichos, é neles que devemos procurar mecanismos capazes de fugir das narrativas tautológicas. Como dizia o escritor mexicano Sergio Pitol, o romancista é uma pessoa que ouve vozes. Rosa Monteiro completa essa sentença afirmando que eles possuem uma autorização para a esquizofrenia. Já eu, afirmo que quero, apenas, crer que Cícero me deu a oportunidade de reabrir a porta de casa para esta louca. Pois, seja bem-vinda.