Trabalho com as palavras, por isso, assusta-me o desprezo de novas gerações à escrita. O pavor cresce quando percebo o potencial viral desta preguiça, na falta de palavra que defina melhor, em atingir pessoas mais velhas. A sensação é que a palavra tornou-se um monstro a ser combatido, uma visita indesejada.
Não se trata de desmerecer qualquer outra forma de comunicação como o audiovisual, por exemplo. Acredito no seu poder estratosférico de comunicar. Contudo, a dissolução da palavra escrita representa o esfacelamento de formas que privilegiam a reflexão e o pensamento crítico em detrimento ao fluxo de pensamento, por vezes impregnado de senso comum. Não à toa, o próprio jornalismo vem agonizando frente a estas novas gerações, sambando em cima de bolas de gude enquanto procura formas de adaptar-se à nova realidade.
Palavras compõem textos, que por sua vez exigem concentração, pausa, dedicação, tudo que as sociedades contemporâneas parecem pouco dispostas a oferecer.
Palavras compõem textos, que por sua vez exigem concentração, pausa, dedicação, tudo que as sociedades contemporâneas parecem pouco dispostas a oferecer. E já que tempo é dinheiro, as palavras são contraproducentes. Relegadas ao ostracismo, pouco a pouco parecem desistir de nós. E há quem se beneficie disso.
As palavras são poderosas. Não por outra coisa, a alfabetização é um instrumento libertador. Ao conseguir significar o mundo, traduzir aquele conjunto de letras e sons em algo reconhecível – e aqui pouco me importa se através da língua culta ou da informal, mero capricho –, somos abraçados pela possibilidade de conferir o pensamento humano, de estarmos em contato com o outro. As palavras contêm o mundo, contêm as coisas, os sons, as leis, as pontes que unificam histórias, passado, presente e futuro.
Palavras também escrevem manifestos e projetos por um mundo melhor, ainda que tenhamos nos acostumado a acreditar que elas sejam apenas palavras. A verdade da palavra é que ela não é apenas, ela é tudo.