Na urgência destes tempos modernos, sinto cada vez mais falta do ócio, do tempo para ruminar planos, pensar, concatenar ideias de maneira coerente, refletir sobre a vida procurando me entender no mundo. Mas sinto ainda mais falta do tempo para não fazer nada. O exercício da preguiça, da inércia. Aquele momento quando nos vemos entregues ao mais puro nada.
Gosto das benesses que a tecnologia oferece, mas é quando estou desligado, estirado em um canto, sem levar nada tão a sério quanto o cálculo do intervalo entre a inspiração e a expiração, que chego próximo à minha completude. Falta-nos tempo dedicado a viver o tempo. Há um ditado espanhol que diz “hay más tiempo que vida”. Uma leitura rasa talvez nos dê uma breve sensação de zombaria, afinal, isto não tornaria obrigatória, e necessária, a emergência frente aos dias? Não há sarcasmo ou ironia, ainda que estejamos em profunda contradição – a constante e humana contradição.
O tempo é eterno, mas a vida é limitada. Entretanto, não devemos nos preocupar, tampouco nos apurar diante destas limitações. É quando entendemos que não precisamos estar no controle que as coisas passam a fazer o mínimo sentido.
O tempo é eterno, mas a vida é limitada. Entretanto, não devemos nos preocupar, tampouco nos apurar diante destas limitações. É quando entendemos que não precisamos estar no controle que as coisas passam a fazer o mínimo sentido. E não é tarefa fácil. Cotidianamente, somos treinados a seguir um ritmo que não pertence à nossa essência. E por isso, nadar contra a corrente exige certa disciplina.
Há no ar uma espécie de terror sobre o tempo, que acaba por jogar contra nosso direito ao ócio. E nesta ode à urgência, ironicamente, tudo se torna efêmero, pois não há nada sendo absorvido. Ser a antítese dessa onda, acreditar que o nada é etéreo, é vestir a camisa dos desajustados, dos rebeldes, dos loucos, quem sabe.
Fazer nada é, ainda por cima, um manifesto pela vida, pois no nada tudo se esconde, tudo se encontra e tudo se é. O nada é pleno e nos torna plenos, e quando alguém lhe perguntar pleno do que você está, diga, sem pestanejar, que está pleno de vida.