Estava eu em uma dessas madrugadas em que nem a internet parece capaz de te salvar. Claro, afinal, depois de casado é quase uma desonra apelar para um portal de vídeos pornográficos. Me entenda, passou dos quarenta, o pós-coito dá sono, isso quando não no pré. Voltemos ao que interessa. Como o bizarro sempre me causou uma certa atração, procurava coisas absurdas – novamente, sem qualquer tipo de duplo sentido.
Entre páginas de letras “o” estendidas – acredite, passar da terceira página de pesquisa do Google só traz descobertas incríveis – encontrei um site norte-americano, destes destinados a compartilhar coisas sem pé nem cabeça. Pois bem, logo me entretive com a sessão que descrevia atas médicas de dispensas de pacientes.
Eu, que sempre tive um olhar sacro para a medicina, imaginava que ali se encontravam os mais nobres segredos, fossem genéticos ou simplesmente garranchos incompreensíveis, mesmo para estudiosos de hieróglifos. Nada como adentrar a cozinha de uma categoria – afinal, diz a lenda, é por ela que se reconhece um bom restaurante.
Logo perdi o sono. “Paciente rejeitou autópsia”. Pensei eu que fosse uma piada e, claro, já imaginei a situação de um defunto, ali, parado frente a mim dizendo: “cara, não vai ser possível, estou meio enjoado, sabe como é? Comi uma coxinha na Rui Barbosa e não me caiu bem”. Passei para a próxima: “o paciente não tem histórico prévio de suicídios”. Risos, amigos. Sim, riam comigo, não posso ser o único a achar graça no causo.
Já imaginei a situação de um defunto, ali, parado frente a mim dizendo “cara, não vai ser possível, estou meio enjoado, sabe como é? Comi uma coxinha na Rui Barbosa e não me caiu bem.
Olhei para o relógio, três e quinze da matina, quarta-feira, já já o galo cantaria e eu teria que, a chutes e pontapés, pular da cama e trabalhar, seja lá o que isso signifique nos dias de hoje. Boa parte do meu horário de trabalho era gasto com memes de cachorrinhos fofos, aqueles bebês com cara de joelho, todos iguais rindo que nem pandas em dia de acasalamento. Enfim, continuei.
“Corpo dormente dos dedos dos pés para baixo”. Aquilo era bom demais para ser verdade. Eu precisava acordar minha esposa e compartilhar o achado. Ao menor cutucão nela, o grunhido já me dizia: “melhor parar por aqui, antes que seja eu a ter que rejeitar uma autópsia”.
Quatro e cinquenta e três. Pensei comigo: “a última e eu durmo”. Mas parecia que de repente todas as frases haviam se tornado insossas, sem sal nem açúcar. Típico de quem precisa dormir e não consegue. Lá pela página 30 do tal site, eis que me deparo com a campeã: “Termos da alta hospitalar: paciente vivo, sem a minha permissão”.
Ri litros, daquelas risadas que te deixam roxo e sem fôlego. Parei por um instante, dei uma última risada e pensei comigo: “já sei a piada que vou contar no próximo jantar em família”. Nesse dia, aposentei a do “pavê ou pá cumê”.