Vinha sentindo já há algum tempo essa sensação. Começou silenciosa, como um aviso que procurei primeiro identificar de onde partia, para depois mergulhar em interpretá-la. Agora, restou-me a necessidade de lidar com a triste constatação: nós falhamos como sociedade.
A realização não surge do resultado do último pleito eleitoral, mas é justamente ele que evidencia e desnuda o fato, de maneira que seja impossível ater-me à negação. Falhamos em aceitar o próximo. Falhamos em acreditar na justiça social. Falhamos em acreditar e em fazer um mundo melhor. Falhamos em lutar pela verdade. Falhamos em procurar um projeto de país, e o trocamos por um projeto de poder, mesquinho e egoísta.
Vinha sentindo já há algum tempo essa sensação. Começou silenciosa, como um aviso que procurei primeiro identificar de onde partia, para depois mergulhar em interpretá-la. Agora, restou-me a necessidade de lidar com a triste constatação: nós falhamos como sociedade.
Veja bem, não se trata de uma questão apenas e tão somente política. Nossa falha, assim como o progresso, não é um elemento (ou acontecimento) de esquerda ou direita, é da coluna cervical de nossa organização enquanto sociedade civil – e civilizada. A violência, hoje, guia as diretrizes de nossas relações. Fechamos as caixas de comentário por proteção. Deixamos de sair de casa por medo. Restringimos nosso mundo ao cercado virtual em que a única constante é o anonimato, o ódio, os bits e bytes que pouco traduzem um mundo tão plural e diverso, capaz, ora vejam, de conviver com o amor e o ódio, o tolerante e o intolerável.
Parece-me que nosso papel é aceitar essa marginalidade imposta, o lugar que nos é de direito. Fora da história, uma nota de rodapé. Percebe como erramos? Há um encaixe surreal nesta história que é a forma perigosa com que trafegamos de maneira adjacente aos pequenos totalitarismos, reduzindo o indivíduo a uma massa amorfa, acéfala, sem respiro e sem sossêgo.
Não há Estado Democrático de Direito que sobreviva à ruína de uma sociedade espiritualmente podre e corrompida. E aí, não adianta procurar o erro no reflexo do inimigo. Essa mancha é indelével, está incrustada em cada elemento de nosso DNA social. Desculpe-me o nobre leitor se estas linhas soam pessimistas ou excessivamente nebulosas, mas assim é que se encontra este cronista.
Não é um exercício de futurologia, ou mesmo que eu seja profeta do apocalipse, mas precisamos ir adiante e admitir que falhamos como sociedade. Aí, quem sabe, possamos encontrar novos mecanismos que nos permitam encarar a vida com outra atitude. Mas, para isso, é preciso dizer em voz alta. Então, num exercício de otimismo, eu o farei primeiro.
Sociedade, nós falhamos.