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Home Crônicas Eder Alex

Tempo de animais mortos

porEder Alex
6 de maio de 2016
em Eder Alex
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"Tempo de animais mortos", crônica de Eder Alex.

Imagem: Pixabay.

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Tive uma infância repleta de animais mortos.

Eu já estava grandinho, tinha acabado de trocar a minha lancheira do Rambo III por uma mochila muito mais madura, quando me deparei com o meu primeiro zumbi. Estava tomando café com leite antes de ir para escola e ouvi uma freada brusca na frente de casa. Quando saí e olhei para a rua, vi o meu gato de estimação morto, e vivo. O carro tinha feito desaparecer a cabeça dele, mas a parte do corpo que não estava grudada no asfalto ainda tateava o ar, como se quisesse tocar a neblina da manhã. Disseram que a vida (não seria a morte?) era assim mesmo e, mesmo depois de muitos protestos, tive que ir para a escola com o peito esmigalhado como se nada tivesse acontecido.

Depois vieram os assassinatos. Primeiro os cachorros.

Os dois vira-latas que tínhamos faziam muito barulho no quintal e irritavam os vizinhos, sobretudo um vizinho famoso por suas delinquências na região. Certa manhã (nunca foi fácil acordar, desde a infância) estranhei o silêncio no quintal e, pela janela do quarto, percebi que um dos cachorros estava dormindo numa posição muito estranha. Quando fui até lá, vi que haviam colado o pescoço dele junto à base de ferro em que sua coleira ficava presa e enrolaram a corrente em seu pescoço até asfixiá-lo. Ver o seu cão de estimação estrangulado não é uma coisa que desaparece fácil da mente e essa imagem ainda estava fresquinha na memória quando semanas depois o outro cachorro começou a vomitar sangue do nada. Não demorou para que se encontrasse o bolinho de carne com vidro moído e então a pena de morte do pobre coitado fosse decretada para dali dois dias, como de fato ocorreu.

Depois foi o outro gato.

Era um filhotinho que eu havia elegido meu melhor amigo. Aventureiro, escapou do meu colo e achou de se esconder debaixo do carro do meu pai, que saía para trabalhar. Eu gritei avisando. Minha mãe gritou avisando. Meu pai ouviu e nos olhou.

E acelerou.

Isso virou uma história que de quando em quando contamos nas reuniões de família, pois naquele dia a crueldade dele atingiu um nível de maniqueísmo ridículo muito próximo ao de uma novela mexicana. Meu pai conseguia ser quase inverossímil, pois o que ele fez, logo após matar o meu gato, foi sair do carro, puxar o corpo esmagado que estava colado no chão e, com cara de nojo (ódio?), jogá-lo em cima de mim, dizendo para eu não colocar mais bicho dentro de casa.

Isso virou uma história que de quando em quando contamos nas reuniões de família, pois naquele dia a crueldade dele atingiu um nível de maniqueísmo ridículo muito próximo ao de uma novela mexicana.

Depois daquilo, os monstros dos filmes de terror que eu tanto gostava já nem me assustavam tanto.

A última morte foi a do último cachorro que tivemos na casa da minha mãe. Desta vez a violência veio de forma sorrateira e orgânica. Um câncer muito agressivo transformou um brutamontes bem burro e brincalhão, num amontado triste de osso e pele que se arrastava deixando uma mancha preta na parede da garagem. Foi meu segundo zumbi. E enquanto ele morria minha família foi se desintegrando, meu irmão saiu de casa, meus pais se separaram, os cômodos foram ficando enormes e a vida bem pequena. Um pouco do que éramos morreu junto com os animais ao longo daqueles anos.

Depois de tudo minha mãe decretou que não haveria mais bichos naquela casa, pois ela não aguentava mais ver tanta “judieira”, e a lei materna vem sendo cumprida desde então. Às vezes quando vou visitá-la e estamos tomando café, penso que a qualquer momento, entre uma risada e outra, ouvirei os cachorros latindo para os gatos lá no quintal.

Tags: animaisCrônicainfânciamorte

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